Financiar automóveis ficou mais caro

Financiar um veículo novo ou seminovo ficou mais caro e mais difícil desde a última semana. O motivo é a crise financeira norte-americana, que ameaça desacelerar a atividade econômica e aumentar o custo do crédito. Prevendo este cenário nada otimista, algumas financiadoras já se anteciparam e repassaram aumento de até 25% na taxa de juros. O prazo de financiamento, que chegava a 72 ou até 84 meses, também reduziu. Além disso, os bancos ficaram mais exigentes na concessão do crédito.

“Os cinco bancos com que trabalhamos já enviaram novas tabelas de juros”, contou Eliana Muniz, gerente de financiamento da Copava Veículos, revendedora da Volkswagen em Curitiba. Segundo ela, só o Itaú reajustou os juros três vezes nos últimos dias. O primeiro aumento foi na quinta-feira, dia 25, antes ainda de a crise norte-americana atingir o estopim. Essa semana, foram outros dois aumentos. Segundo Eliana, o Banco do Brasil e a Finasa também já reajustaram as taxas.

Na última sexta-feira, foi a vez das outras duas financiadoras, o HSBC e o banco da Volks. De maneira geral, afirmou Eliana, a taxa de juros subiu, em média, 22% na comparação com a semana passada. O que também aumentou foi a exigência na hora de conceder o crédito. “Os bancos estão mais criteriosos, mais rigorosos”, comentou ela, acrescentando que aproximadamente 60% dos veículos novos e seminovos comercializados na concessionária são financiados.

Prazo menor

Além de ter que pagar parcelas maiores, o consumidor que financiar um veículo terá prazo menor para quitar o veículo. O HSBC, por exemplo, que financiava veículos novos e seminovos em até 72 meses, reduziu o prazo máximo para 60 meses na Copava. O Banco do Brasil também reduziu, de 72 para 60 meses, e, nesse prazo, só financia veículos novos.

Segundo Eliana, quem fez o orçamento com taxas antigas mas não fechou negócio terá que se conformar em pagar mais. “As taxas antigas valem para quem já negociou e assinou o contrato. Os bancos não hon-ram as taxas de orçamento”, explicou ela.

Conforme cálculo feito pelo Dieese-PR (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, regional Paraná), um veículo no valor de R$ 20 mil, financiado em prazo de 48 meses e com juros de 1,50% ao mês, resultava em prestação de R$ 587,50. Com o aumento médio de 25% na taxa – passando, portanto, para 1,88% ao mês -, a prestação sobe para R$ 636,22, ou seja, R$ 48,72 a mais por mês, que resulta num aumento total de R$ 2.338,56.

Para o economista Cid Cordeiro, do Dieese-PR, as novas taxas praticadas pelos bancos não se justificam, uma vez que os juros para captação de recursos ainda não aumentaram. “Parte é aumento de margem, na expectativa de que o custo de captação aumente”, explicou Cordeiro. Segundo o economista, o custo de captação não aumentou nos últimos dias. Pelo contrário, até diminuiu – no dia 3 de setembro, os juros eram de 14,58% ao ano; no último dia 1.º, custavam 14,33%.

Para Cordeiro, outras modalidades de crédito, como de eletrodomésticos e da casa própria, devem acompanhar a tendência de alta. “O momento é de incerteza, com uma série de repercussão na economia e na vida da pessoas. Quem puder adiar a compra desses bens, melhor”, orientou o economista, acrescentando que o comprometimento de renda pelos próximos 20 ou 40 meses é arriscado.

Setor teme redução nas vendas

As mudanças no financiamento de veículos – com taxa de juros maior e prazo menor – podem desacelerar as vendas do setor neste final de ano. É o que temem as concessionárias tanto de novos quanto de usados. “As vendas devem ser 20% menores este ano na comparação com o ano passado”, prevê Deosdeti Fonseca, vendedor da Autolins, especializada em utilitários seminovos. Quase 90% das v,endas, segundo Fonseca, são financiadas. A loja trabalha com cinco financiadoras – entre elas a BV e o Panamericano -, mas nenhuma delas havia mandado a nova tabela de juros até sexta. “Parece que as novas tabelas já estão no sistema, mas a gente só deve começar a operar com elas a partir da segunda-feira”, comentou. A taxa média praticada na loja é de 1,8% ao mês – sem o reajuste – para os veículos mais novos (a partir de 2003), com prazo de até 60 meses.

Na Corujão, revendedora da Volkswagen, o movimento foi normal esta semana, segundo o gerente de vendas Marcos Henrique Bocuti. A concessionária trabalha com quatro financiadoras – Itaú, Finasa, ABN e o banco da montadora – e o aumento da taxa de juros deve variar entre 10% e 15%. “A Finasa e o Itaú já mandaram as tabelas novas. No Itaú, o financiamento de 60 meses com taxa de juros de 1,40% ao mês passou para 1,57%”, comentou. Na Finasa, o prazo 72 meses caiu para 60.

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