Londres – O jornal Financial Times disse ontem, em editorial, que a julgar pela reação do mercado, “o jogo acabou para o Brasil”. Os spreads do país sobre os títulos do Tesouro norte-americano subiram para quase 23 pontos percentuais. “Se esse nível persistir, o Brasil está insolvente e irá ao default”, disse o jornal. Mas embora um “eventual default ou desastre para o Brasil” sejam cada vez mais prováveis, ainda existe uma alternativa para o país.

Segundo o diário financeiro, como observou o economista John Williamson, do Institute for International Economics, com taxas de juros mais baixas, a dinâmica da dívida brasileira, embora difícil, pode ser administrada. “Ninguém deveria esquecer que o Brasil não é a Argentina”. disse o FT. “Os políticos ainda têm o apoio da população e da comunidade financeira internacional. O país pode coletar impostos, o sistema bancário ainda é saudável e os governos estaduais não po dem desrespeitar o orçamento.” O jornal alerta, no entanto, que se a crise de confiança continuar, o “Brasil seguirá o caminho de seu vizinho do sul”.

O FT salienta que a recuperação de confiança é difícil, mas duas coisas poderiam ajudar. “Primeiro, os candidatos de oposição à Presidência precisam reconhecer publicamente que o default não atende aos interesses do Brasil e devem se comprometer com o programa do FMI.” Além disso, o FMI deveria produzir uma detalhada explicação para apoiar a sua assertiva de que o Brasil “está numa sólida tendência política de longo prazo que merece com vigor o apoio da comunidade internacional.” Segundo o FT, a “única coisa certa é que não fazer nada condenaria o Brasil ao desnecessário colapso financeiro”.

Segundo o jornal, a razão de ser do FMI seria destruida com um colapso brasileiro. Aqueles que defendem os pacotes de ajuda do FMI ficariam desacreditados. “E, mais importante, o Brasil sofreria terrivelmente”, disse o jornal. “Ninguém deveria se preocupar muito na City de Londres sobre perdas mas a noção de que o Brasil poderia reestruturar a sua dívida relativamente sem dor vem da ilha da fantasia.” O FT observou que do total de sua dívida de US$ 250 bilhões, o setor público deve apenas cerca de US$ 75 bilhões para credores estrangeiros do setor privado. Se essa dívida fosse reduzida para valores atuais de mercado -cerca de US$ 40 bilhões – isso não alteria muito a dinâmica da dívida do país. Se o Brasil reestruturar a sua dívida doméstica, o sistema bancário, que controla 30% de seus ativos em papéis do governo, seria golpeado.

“Um socorro bancário seria necessário e para recuperar credibilidade após um default, as taxas de juro domésticas teriam que permanecer elevadas, prejudicando ainda mais a solvência do Brasil pois mais de 30% de sua dívida está ligada aos juros domésticos”, disse o FT.

 

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