As Letras de Crédito do Agronegócio e Imobiliário (LCA e LCI, respectivamente) viveram seus tempos de glória há dois anos, quando os setores imobiliário e agrícola tinham sede de financiamento. Mas de lá para cá, com a queda no ritmo da economia, o único pilar que ainda sustenta esse tipo de investimento é a isenção de Imposto de Renda – que o governo, porém, estuda retirar. Para especialistas, o fim do incentivo tributário a esses papéis abriria espaço para outras opções mais arrojadas em renda fixa, como Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e as debêntures incentivadas.

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A história é antiga: em 2015, o então ministro da Fazenda Joaquim Levy deu o pontapé inicial nas discussões sobre a revisão da tributação desses e de outros investimentos, para evitar que o investidor operasse em mercados distintos e ganhasse na diferença de tributação – mas o assunto morreu. Ressuscitou agora com a equipe econômica de Michel Temer, como alternativa para aumentar a arrecadação do governo para 2018, diante de um quadro fiscal cada vez mais deteriorado.

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As LCIs e LCAs são papéis de renda fixa que têm rentabilidade atrelada ao CDI e são cobertas pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) – que cobre até R$ 250 mil por CPF e instituição bancária. Mesmo com a escassez desses títulos pelo aprofundamento da crise econômica, atrelado a mudanças regulatórias nas LCAs, o investidor ainda pode encontrar algumas opções sobretudo por meio de corretoras independentes, que distribuem títulos de diversos emissores.

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Comparação

Além de ficar acima da poupança em rentabilidade, as letras ganham de alguns CDBs e também alguns títulos de renda fixa mais conservadores, uma vez que a incidência do Imposto de Renda é regressiva: 22,5% para aplicações com prazo de até seis meses; 20% para aplicações de seis meses a um ano; 17,5% para aplicações de um a dois anos e 15% para aplicações com prazo superior a dois anos. Para quem gosta desses investimentos, André Bona, do Blog de Valor, aconselha olhar para o prazo e para a rentabilidade final. Por exemplo, uma LCA ou LCI pós-fixada com rendimento de 85% do CDI ao ano, caso o vencimento seja superior a dois anos, equivale ao rendimento bruto de 99% do CDI ao ano. Ou seja, a partir de dois anos, uma LCI ou LCA é melhor do que qualquer CDB abaixo de 99% do CDI.

Para o gerente de Home Broker da Socopa, Rogério Manente, “a onda das LCIs e LCAs já acabou”. Esse momento foi logo depois da debandada do investidor da poupança para o Tesouro. Agora, ele acredita que o investidor está na “terceira onda dos investimentos”, a dos CRIs, CRAs e debêntures incentivadas, do setor de infraestrutura, que também são isentas de IR.

Ele acredita que, pelo volume de emissões, as debêntures são um destino provável dos recursos das LCIs e LCAs. Os CRAs também não ficam atrás. Recentemente, a Copersucar e Fibria lançaram CRAs com remunerações previstas em até 103% e 99% do CDI, respectivamente.

Risco

Sergio Bessa, professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acredita que, em meio às incertezas do cenário econômico e político, o investidor não irá substituir esses papéis, caso percam sua vantagem competitiva, por títulos que envolvem mais risco. “Neste momento, o País está muito inseguro para as pessoas investirem em ativos sem garantia do FGC”, diz. “Uma coisa é ter apetite por risco em termos de renda variável, como no mercado de ações, agora outra coisa é levar um calote de uma empresa”, diz.

Segundo ele, para os mais conservadores, esse lugar pode ser ocupado por fu multimercado, que têm crescido nas carteiras dos brasileiros, e por CDBs de longo prazo, que costumam ter rentabilidades maiores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.