Apesar das tentativas da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), que realizou reuniões prévias para organizar o escoamento da safra, ainda não foi possível evitar a fila de caminhões na BR-277. Ontem à tarde, o congestionamento que começava no pátio de triagem do Porto de Paranaguá (km 3) seguia até o começo da serra (km 31), com um intervalo de 14 quilômetros. A fila recomeçava no km 45 e já passava um quilômetro do posto de pedágio da Ecovia (km 61), em São José dos Pinhais. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), cerca de 1,8 mil caminhões aguardavam no acostamento para desembarcar soja em Paranaguá, o que equivale a uma fila contínua de 45 quilômetros.
Segundo o diretor técnico da Appa, Ogarito Linhares, o movimento intenso de caminhões neste início de semana foi provocado por uma combinação de fatores: “Detectamos o envio de caminhões maior do que o programado, que coincidiu com três dias de chuva (sexta a domingo), o que atrasou o embarque”, cita. A situação foi agravada com a greve dos fiscais federais agropecuários, iniciada na última segunda-feira. Eles interromperam a emissão de certificados de qualidade para cargas de origem animal e vegetal para exportação e importação.
Ontem, com a melhora do tempo, os embarques estavam normais, informou Linhares. Mesmo com a previsão de 800 caminhões descarregarem soja nos armazéns, o pátio de triagem continuava lotado, com 1,2 mil caminhões. O silo público (silão) estava cheio, com 100 mil toneladas de soja. Três navios carregavam no corredor de exportação. Ao largo, mais 30 navios aguardam para atracar. Por causa da chuva do último final de semana, os navios estão com atraso de três dias na programação de carregamento. Linhares estima em 15 dias o tempo necessário para regularizar os embarques. “O tempo de espera dos navios deve passar de 20 para 17 dias”, calcula.
Os embarques de soja e milho em 2004 passam de 3 milhões de toneladas, contra 1,6 milhão de toneladas no mesmo período do ano passado. Ainda no mês de março, está programado o carregamento de mais 800 mil toneladas de soja e 500 mil toneladas de milho. “A safra de milho foi comercializada de uma só vez, entre dezembro e janeiro, e enviada para o porto”, assinala Linhares.
Ele informou que já entrou em contato com os operadores e cooperativas para evitar novos congestionamentos. “Respeitando a programação, não teremos fila. Mas é preciso da colaboração do interior. Se não suspenderem o envio de caminhões, daqui a pouco a fila vai estar em Ponta Grossa”, afirma o diretor técnico da Appa. “Se não tivesse ocorrido a frustração da safra de soja no Paraná, por causa da seca, e em Mato Grosso, por causa da chuva, a situação seria mais desconfortável”, salienta.
Em virtude da ocorrências das grandes filas de caminhões, o superintendente da Appa, Eduardo Requião, agendou uma reunião de emergência, hoje, no Porto de Paranaguá, com entidades representativas dos caminhoneiros.
Fiscais mantêm a greve
Os fiscais federais agropecuários entraram ontem no segundo dia de greve. Por causa da paralisação, foram suspensos os serviços de fiscalização em cargas animais e vegetais para importação e exportação. Uma liminar concedida ao Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarne) determinou que os fiscais do Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura mantenham serviços essenciais de fiscalização da produção industrial e exportação de carnes e derivados.
Na decisão, a juíza federal Vera Lúcia Feil Ponciano, da 8.ª Vara Federal de Curitiba, autorizou as empresas associadas ao sindicato a utilizar laudos e pareceres emitidos por médicos veterinários contratados, caso os serviços sejam inviabilizados pelos grevistas. “Sem a certificação oficial, poderá haver problemas quando essas cargas chegarem no destino”, alerta o presidente da Associação dos Fiscais Federais Agropecuários do Ministério da Agricultura no Paraná (Affama-PR), Hugo Caruso.
Em Foz do Iguaçu, mais de 350 caminhões estavam parados na Estação Aduaneira de Interior (Eadi). A operação noturna, que recebe diariamente uma média de 200 caminhões do Paraguai (com milho, soja e farelo), não foi realizada ontem.
Os fiscais agropecuários reivindicam a equiparação da carreira com as demais carreiras típicas de Estado. O salário inicial do fiscal do Ministério da Agricultura é de R$ 1.775,00, o que representa uma defasagem de 74% em relação ao de outros órgãos fiscalizadores (R$ 3.090,00). “Podemos estudar a possibilidade de ser gradual, mas não abrimos mão do nosso pleito”, enfatiza Caruso. (OP)
