Fila é pressão para estocar transgênico

Uma fila de caminhões que se formou ontem ao longo da BR-277, próximo a Paranaguá, foi o pivô de uma nova batalha do governo do Estado contra a soja transgênica. O superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Eduardo Requião, afirmou que a fila foi provocada por ?exportadores, operadores portuários, cooperativas e plantadores de soja?, na tentativa de pressionar o porto a estocar soja transgênica.  

?O porto não estoca soja transgênica, só convencional. Essa soja está vindo para cá sem navio, sem dono?, afirmou. Segundo Requião, o porto recebeu durante o período de Carnaval cerca de 4 mil caminhões – quantidade 30% a 40% maior do que deveria ter recebido, segundo Requião.

Para o superintendente, a supercarga tinha o objetivo único de pressionar o Porto de Paranaguá a ceder e estocar a soja geneticamente modificada no silo público, o ?Silão?. ?Houve um chamamento a maior na tentativa de abrir o silo público. Mas isso não vai acontecer?, garantiu. ?Se permitirmos a colocação de soja transgênica no silo público, vamos prejudicar os produtores paranaenses de soja tradicional, que precisam da garantia de que, em Paranaguá, existe a possibilidade de escoar a sua carga sem contaminação com transgênicos?, disse o superintendente.

Eduardo Requião: punição para quem enviou as cargas.

O ?Silão? tem capacidade para 100 mil toneladas, o que representa 10% de toda a capacidade do Porto de Paranaguá. Ontem ele contava com 8 mil toneladas de grãos.

Segundo Requião, as empresas que enviaram a carga ao porto sem aviso serão punidas. ?Vamos punir as empresas que estão fazendo isso. Elas podem ser afastadas por 5, 10 e até 180 dias das operações?, afirmou. ?Estamos fazendo levantamento de todas as empresas que estão operando, a origem, possibilidade de embarque, se a soja está vendida ou não. Não podemos permitir que os caminhões se transformem em silos ambulantes.?

Fila

Até o final da tarde de ontem, 868 caminhões estavam parados no Pátio de Triagem, que tem capacidade para cerca de 1,2 mil carretas, segundo informações da Appa. Além do grande volume de caminhões com destino ao porto sem programação, a chuva impediu o embarque de 96.600 toneladas de soja nos dois navios atracados no cais do porto. Segundo a Appa, dois navios com capacidade para receber 79.800 toneladas de soja estão ao largo, aguardando para atracar, assim como outras três embarcações preparadas para receber, juntas, mais de 100 mil toneladas entre soja e farelo de soja. Nas próximas 48 horas, estão sendo esperados três navios para carregar 140 mil toneladas dos dois produtos.

Antonio Martinago era um entre centenas de caminhoneiros que aguardavam ontem a liberação no Pátio de Triagem. Carregando soja transgênica de Medianeira, oeste do Estado, ele contou que chegou a Paranaguá na terça-feira, às 10h. ?Há 241 caminhões na minha frente?, disse. Outro caminhoneiro, Paulo Aguinaldo Rolim, também aguardava a sua vez. Com a carreta carregada de soja transgênica, Rolim conta que chegou a Paranaguá na segunda-feira à tarde. ?Desde segunda, só dez carretas com soja transgênica conseguiram descarregar?, contou.

Não aceita

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás, Macel Caixeta, disse que a entidade não aceita que se jogue a culpa sobre os produtores. ?É mais um absurdo que acontece no Brasil?, afirmou. ?O nosso papel é plantar e ajudar o País a crescer, quem exporta são as tradings e as multinacionais.?

Mas ele criticou a restrição para exportação dos produtos transgênicos. ?Se o plantio está permitido no Brasil, tem que ser escoado?, argumentou. O diretor da Federação da Agricultura de Mato Grosso, Valdir Correa da Silva, também foi enfático. ?Por parte do produtor não há nenhum esquema, mesmo porque a primeira soja ele entrega para as tradings como pagamento de dívidas.? 

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo