FGV: juro piorou confiança do varejo ampliado

Se não fosse o atacado, o setor do comércio que se mostrou mais otimista no trimestre até janeiro deste ano, a confiança da atividade pouco teria evoluído desde último trimestre de 2013. Enquanto o sentimento dos empresários do varejo restrito ficou na mesma, a percepção dos comerciantes do segmento ampliado (que inclui veículos e material de construção) voltou a piorar.

Na Sondagem do Comércio da Fundação Getulio Vargas (FGV), a confiança dos varejistas do setor ampliado caiu 2,6% no trimestre até janeiro em comparação a igual período do ano passado. O resultado intensificou a queda de 1,9% observada no quarto trimestre de 2013, em relação a igual período de 2012.

De acordo com o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV, Aloisio Campelo, o que pesou para esse comportamento foi o setor de veículos. A confiança passou de -4,7% para -7,0% no trimestre até janeiro. “Isso pode estar relacionado a mudanças graduais no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). O consumidor já aproveitou antes, as vendas de automóveis aumentaram no fim do ano passado. Além disso, os juros estão mais altos. As condições para esse setor seguir de forma mais favorável não são mais as mesmas”, disse Campelo, lembrando que a recomposição parcial do IPI para automóveis passou a vigorar neste ano.

De fato, a situação parece um pouco pior para os duráveis, ressaltou o economista. “Com os juros mais altos, o custo financeiro para capital de giro e empréstimos para investimento aparece como fator limitativo à expansão das vendas.” Segundo a sondagem, 11,5% das empresas apontaram o custo financeiro como fator limitativo, o maior porcentual desde setembro de 2011 (11,6%).

Além disso, aumentou o número de empresas que apontam demanda insuficiente, de 13,3% em janeiro de 2013 para 21,4% em janeiro de 2014 (o maior porcentual da série). Esse quadro também se refletiu em estoques excessivos. No setor automotivo, 16,8% dos comerciantes se diziam muito estocados em janeiro deste ano, contra 13,2% em igual mês de 2013. Essa fatia chegou a 29,2% em dezembro passado. “No ano passado, mais empresas estavam com estoques insuficientes. Agora, houve uma piora”, explica Campelo.

Já o comércio de materiais de construção, que vinha se mantendo otimista nos últimos meses, mostrou queda de 3,4% no trimestre até janeiro. “Foi uma boa desaceleração. É estranho, porque pela primeira vez em alguns anos as obras de infraestrutura parecem que vão acelerar”, observou Campelo. “Acho que tem um pouco de efeito base. No segundo semestre de 2012, as expectativas estavam altas”.

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