A aceleração nos preços de energia elétrica, de transportes públicos e de mensalidades escolares neste começo de janeiro deve impulsionar o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) para uma alta entre 1,70% e 1,80% no fechamento deste mês. A previsão foi dada nesta sexta-feira, 23, pelo economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Se a taxa mensal for confirmada, deve ser a maior desde 2003, quando o IPC-S foi de 2,20%, como informado na semana passada pelo coordenador do índice, Paulo Picchetti. Também naquela ocasião, Picchetti já havia alterado a projeção para o IPC-S fechado de janeiro, de 1,2% para 1,6%.
Os itens mencionados por Braz já tiveram variações importantes no IPC-S da segunda leitura do mês, que avançou 0,23 ponto porcentual, passando de 1,28% para 1,51%. O item eletricidade residencial teve variação de 9,49% na segunda quadrissemana (últimos 30 dias terminados na quinta, 22), após 7,76%. Já as tarifas de ônibus urbano ficaram em 6,70% ante 4,36%, enquanto os cursos formais subiram 6,29% na comparação com 4,22% na primeira medição de janeiro.
O economista disse que já esperava uma pressão adicional desses produtos na inflação medida pelo IPC-S – uma por causa do aumento tradicional de material e mensalidades escolares nesta época do ano e outra em razão dos reajustes que fogem dos padrões desta época, como os de eletricidade. “Em janeiro, você não vê energia subindo dessa maneira, nem mesmo transporte urbano. Já alimentos in natura e mensalidades escolares, sim. Quando soma tudo isso, o que é atípico e o que é típico, leva o IPC-S a um patamar que vê habitualmente. O ponto máximo pode chegar no fechamento de janeiro. O que está fora são os reajustes dos preços administrados”, avaliou.
Conforme a FGV, o grupo Educação, Leitura e Recreação, que saiu de 1,93% para 2,63% na segunda leitura do mês, deve fechar janeiro com taxa na faixa de 8,00%.
Segundo Braz, o efeito mais “perverso” da crise hídrica deve se refletir cada vez mais no encarecimento da conta de luz. “As previsões são de alta entre 30% e 40%. Independentemente de ser 30% ou 40%, são números que nunca vimos antes. É uma situação que está longe de ser resolvida e começa a afetar outros Estados como o Rio. Isso deve ficar ainda mais comprometido”, analisou.
Além da pressão dos custos de energia elétrica, Braz ressaltou que o grupo Habitação, que passou de 1,54% para 1,85% na segunda quadrissemana do mês, deve continuar pressionado e sendo influenciado ainda com gastos com condomínio e tarifas de água. Esses dois itens tiveram taxas de 2,45% (ante 2,01%) e 1,14% (0,95%), respectivamente.
A inflação do grupo Alimentação, que foi de 1,72% na segunda leitura do mês, após 1,70%, puxada por hortaliças e legumes (de 11,56% para 14,71%), também deve continuar preocupante, conforme Braz. “As condições nunca são totalmente favoráveis aos in natura nesta época. Esses alimentos devem responder por uma alta importante da inflação do primeiro trimestre”.