Beneficiada por alimentos mais baratos, a inflação sentida pelas famílias mais pobres, mensurada pelo Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1), deve encerrar 2009 no menor nível em três anos. A avaliação partiu do economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) André Braz. Até outubro, o índice, que mede o impacto de variação de preços para famílias com ganhos entre 1 e 2,5 salários mínimos mensais, acumula alta de 4,26% em 12 meses.
“O prognóstico é de uma inflação bem comportada para o IPC-C1, em 2009, sem uma mudança de cenário muito grande do que foi apresentado pela taxa em 12 meses até outubro”, disse, acrescentando que o indicador deve encerrar o ano em 4,16%. Caso essa projeção se confirmar, o indicador de 2009 será bem menor do que a inflação dos mais pobres apurada em 2008, de 7,37%
O economista lembrou que, no final do ano, as despesas com alimentação em todas as famílias aumentam devido às compras para ceia de Natal. Ele não espera quedas mais intensas nos preços dos alimentos nos dois últimos meses do ano, visto que, com o aumento da procura por produtos, a taxa de inflação no setor deve subir. Por isso, os dois últimos meses do ano devem mostrar taxas bem similares às mostradas em iguais meses em 2008. Em novembro do ano passado, o índice subiu 0,38%; e em dezembro de 2008, avançou 0,57%.
Sobre o bom comportamento dos preços dos alimentos ao longo deste ano, Braz lembrou que, por causa da crise, houve um recuo na demanda doméstica no primeiro semestre de 2009, o que causou um cenário de procura menor do que oferta em vários setores, incluindo alimentação. Isso deixou os alimentos mais baratos este ano, de uma maneira geral – sendo que os produtos alimentícios respondem por 40% dos gastos mensais das famílias mais pobres. Houve, este ano, safras boas de arroz e feijão o que melhorou a oferta e reduziu os preços destes itens – que representam 2% das despesas mensais das famílias com ganhos entre 1 e 2,5 salários mínimos.
Além disso, a apreciação do real ante o dólar ajudou a reduzir o preço de commodities agrícolas importantes, como trigo e soja. Isso conduziu a preços mais baratos em produtos derivados destas commodities como pão, macarrão e óleo de soja.
Entre os destaques de quedas de preço no acumulado em 12 meses até outubro, dentro do setor de alimentação, estão arroz e feijão (-17,64%); e carnes bovinas (-4,98%). “Este ano, houve taxas negativas de preços muito fortes em tipos de carne de segunda, que são mais consumidas por famílias pobres”, explicou, citando as deflações acumuladas em 12 meses como acém (de -10,02%), carne moída (-7,32%), fígado (-9,43%), peito bovino (-7,69%) e pá ou paleta (-9,54%).
Para 2010, estes mesmos fatores não devem se repetir. Isso porque os preços dos alimentos devem experimentar quedas menos intensas, visto que a demanda no mercado doméstico encontra-se em recuperação. O economista comentou, porém, que isso pode ser compensado pela provável menor pressão de tarifas e preços administrados, no IPC-C1, no ano que vem. Este ano, os Índices Gerais de Preços (IGPs), usados no cálculo de reajustes de várias tarifas públicas, devem encerrar este ano pela primeira vez na história em deflação, o que deve ajudar a puxar para baixo o patamar de reajustes dos preços administrados.