O Indicador de Clima Econômico (ICE) do Brasil em julho deste ano caiu a 55 pontos, o pior nível desde janeiro de 1991 (54 pontos), segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) compilados em parceria com o instituto alemão Ifo. Segundo a economista Lia Valls, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, a perspectiva cada vez menor para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do País é o que mais pesa na avaliação dos analistas.
“O que pode realmente ter influenciado muito (o resultado) foi a perspectiva de menor crescimento econômico. Isso é algo que pesa muito”, disse Lia. Em julho, o ICE brasileiro recuou 22,5% a partir dos 71 pontos apurados em abril, no âmbito da Sondagem da América Latina, realizada a cada três meses.
“Temos a informação do mercado, no Boletim Focus. A cada semana que sai, o PIB é revisado para baixo. Há perspectiva de que balança comercial vai piorar, a inflação está elevada”, acrescentou Lia. Segundo a economista, não foram detectados indícios de influência da Copa do Mundo sobre os resultados, como ocorreu em sondagens empresariais apuradas pela instituição. “Não há como afirmar que houve esse efeito”, explicou.
Para Lia Valls, os dados mostram uma situação de contínua piora no clima econômico, não só no Brasil, mas também em países como Argentina e Venezuela. No caso brasileiro, o ano de 2014 tem se destacado pelas avaliações cada vez menos favoráveis sobre o ambiente de negócios. Em julho, o Índice de Situação Atual (ISA) caiu de 68 para 42 pontos, enquanto o Índice de Expectativas (IE) recuou de 74 para 68 pontos. “Não vemos no espaço de curtíssimo prazo uma melhora desse indicador”, avaliou a economista.
A piora do ICE brasileiro ocorre principalmente por fatores domésticos, ressaltou Lia. Pelo lado das exportações de commodities, o cenário até melhorou, com aumento da quantidade de minério de ferro comercializada no mercado internacional (a despeito da queda de preços). Além disso, os entraves na negociação da Argentina com parte dos credores de sua dívida soberana não provocaram grandes mudanças em um cenário que já era ruim para a exportação de manufaturados, principalmente veículos.
“Além da exportação não ser o fator de crescimento do Brasil, fatores domésticos estão preponderando. Houve aumento muito grande no peso que se dá aos problemas que o Brasil tem, como inflação, falta de confiança no governo, problemas que antes não eram apontados como tão complicados para o País. Antes, era o problema da falta de competitividade”, explicou Lia.