Beneficiado por uma inflação menos intensa do minério de ferro no atacado, e de alimentos mais baratos no atacado e no varejo, o dado final do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) em junho pode ficar abaixo do índice de maio, quando o indicador subiu 1,19%. A avaliação é do coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Salomão Quadros. Ele explicou que, embora a segunda prévia do IGP-M deste mês tenha avançado 1,06%, taxa mais elevada do que a apurada em igual prévia em maio (0,95%), o índice ficou bem abaixo da primeira prévia do IGP-M de junho, quando mostrou alta de 2,21%. “É possível perceber que, ao longo das prévias de junho, o índice mostra uma trajetória de desaceleração”, afirmou.
O técnico comentou que, em maio, o cenário era diferente. Pressionadas pelo gradual avanço na taxa de elevação do preço do minério de ferro no atacado, a primeira e a segunda prévias do IGP-M de maio mostravam sinais de aceleração, e suas taxas saltaram, respectivamente, de 0,47% para 0,95% no mês passado. “Não é o que ocorre no momento”, comentou. Na prática, as taxas de inflação de junho estão sendo beneficiadas por uma perda de força no avanço do preço do minério de ferro. Quadros observou que, na segunda prévia do IGP-M de junho, divulgada hoje, o minério de ferro subiu 32,61%, sendo que, na primeira prévia do índice neste mês, o produto mostrava inflação de 75,25%. “Está ocorrendo uma desaceleração na alta do preço do minério de ferro”, afirmou.
Por causa de um reajuste no preço do minério de ferro promovido pela Vale, em abril, que teria sido da ordem de 100% segundo projeções de mercado, o produto começou a acelerar de preço dentro dos Índices Gerais de Preços (IGPs) a partir de maio. Mas agora, segundo Quadros, o impacto deste aumento começa a perder força dentro da inflação atacadista, que representa em torno de 60% do total dos IGPs – sendo que o somente o minério tem peso de 2,5% no cálculo da inflação atacadista. Isso, na avaliação do técnico, pode ajudar a desacelerar a trajetória de avanço do IGP-M, e dos IGPs de uma maneira geral.
Outro ponto levantado pelo especialista é sobre a possibilidade de continuidade no atual cenário de alimentos mais baratos, que provocou deflações, na segunda prévia de junho, nos preços de bens finais no atacado (-0,65%) e do grupo alimentação no varejo (-1,52%). Caso este comportamento benéfico dos alimentos continue, é possível que ajude a conter, em parte, o avanço do IGP-M, e assim contribuir para uma taxa menor em junho do indicador, em comparação com a de maio.