A maior parte das famílias brasileiras espera o pior dos mundos nos próximos meses: aceleração da inflação, aumento de juros e deterioração do mercado de trabalho. Corre por fora o risco de racionamento de água e energia, que pode tirar conforto e trazer inúmeros transtornos para os consumidores. Juntos, todos esses fatores minaram a confiança das famílias em fevereiro, e o índice atingiu um mínimo histórico. Neste mês, a confiança do consumidor caiu 4,9%, para 85,4 pontos. Da série iniciada em novembro de 2005, este é o menor nível já atingido.

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“Em janeiro, o pessimismo já havia voltado mais forte. Agora, aprofundou. Está ficando cada vez mais disseminado, e é mais difícil achar indicador que não esteja em seu mínimo histórico”, comentou a economista Tabi Thuler Santos, especialista em análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), instituição responsável pelo levantamento.

Além do indicador geral, outros recordes foram batidos em fevereiro. Segundo a FGV, 75% dos consumidores esperam aceleração da inflação nos próximos 12 meses, enquanto 75,4% contam com aumento de juros nos seis meses seguintes – nos dois casos, os maiores porcentuais da história do índice. Além disso, o indicador de emprego futuro recuou 12,9% e está num nível superior apenas a novembro de 2005, primeira observação da sondagem.

“O pessimismo está muito forte. E, embora a avaliação sobre a situação atual tenha caído 7%, esse indicador é mais volátil. Mas as expectativas recuaram 4,2%, e isso não costuma acontecer. É um destaque”, notou Tabi.

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Endividamento

O endividamento também preocupa as famílias. Neste mês, 25,5% dos consumidores relataram estarem endividados. O porcentual é o maior desde janeiro de 2006 (26,3%). “Em janeiro, a avaliação sobre a situação financeira das famílias atingiu um mínimo histórico, e agora subiu 0,2%, o que é uma estabilidade”, disse a economista.

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Apesar dos sinais negativos, o indicador de intenção de compra de bens duráveis subiu 2%, puxado exclusivamente pelas projeções mais positivas das famílias da faixa de renda 1 (até R$ 2,1 mil mensais). “O resultado pode estar associado à situação financeira. Os consumidores estão preocupados com emprego, economia, inflação, mas quando ele olha o núcleo familiar, as finanças, ele acha que não está tão ruim assim”, afirmou Tabi.

Trata-se do segundo mês seguido de alta na intenção de compra de duráveis, segundo a FGV. “Não dá para dizer que eles estão otimistas, mas é um movimento diferente”, ponderou. Nas faixas de renda intermediárias e mais elevadas, contudo, o índice permanece em queda.