O clima econômico da América Latina atingiu em julho o melhor patamar dos últimos 12 anos. A informação é da coordenadora do Centro de Comércio Exterior do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (IFGV), Lia Valls. Segundo ela, o Índice de Clima Econômico (ICE) da América Latina, divulgado hoje pela FGV em parceria com o instituto alemão IFO, foi de 6,0 pontos, o segundo melhor da série histórica do indicador, iniciada em 1989. O resultado perde apenas para o desempenho de outubro de 1997, quando o índice atingiu 6,3 pontos.
O ICE é calculado dentro de uma escala de pontuação que vai de zero a 9 pontos – sendo que, quanto mais próximo de 9, melhor o resultado. O indicador é elaborado a partir das respostas obtidas na Sondagem Econômica da América Latina, que em julho ouviu 149 especialistas e analistas do mercado financeiro em 17 países.
O indicador já havia registrado 6 pontos anteriormente, em quatro momentos: nos meses de janeiro, abril e julho de 1997 e em abril de 2000. “Houve uma melhora, na percepção dos analistas sobre o andamento da economia latino-americana, de abril para julho”, disse Lia Valls. Em pesquisas anteriores, os especialistas projetavam piora no cenário econômico do continente – o que não ocorreu. “Houve uma frustração de expectativas, mas uma frustração boa, de expectativas que eram ruins”, comentou. “Mas mesmo com o resultado positivo, os analistas ainda têm alguma incerteza sobre o futuro, a sustentabilidade da recuperação da economia mundial e da economia latino-americana”, acrescentou.
Brasil
O Brasil foi um dos países que mais impulsionaram o cenário observado pelos especialistas em julho na economia da América Latina. “Nos primeiros meses deste ano, continuamos a ter crescimento na economia. O emprego continuou a mostrar bons resultados”, lembrou a técnica da fundação. Ela considerou que, atualmente, os temas no Brasil que estão sendo vistos com alguma preocupação por analistas são o avanço da inflação e um déficit mais forte nas transações em contas correntes. “Mas mesmo estes temas não são considerados muito arriscados. São debates para se pensar mais para o futuro”, assinalou. “A avaliação é de que, no Brasil, há uma estabilidade na economia”, afirmou.
Além do Brasil, outros três países contribuíram fortemente para o bom humor dos analistas em julho, em suas avaliações sobre a economia latino-americana: Chile, Peru e Uruguai. “Todos estes países estão experimentando um movimento de boom econômico”, afirmou. “Chile sempre teve uma constante no desempenho de sua economia e há uma percepção de que é uma economia estável. Já Peru e Uruguai experimentaram crescimentos importantes na economia durante o primeiro trimestre” disse. No caso destes dois últimos países, Lia lembrou que eles são fortes exportadores de commodities (matérias-primas) – cuja procura mostrou trajetória de recuperação nos primeiros meses do ano, após sucessivos baques no ano passado, devido à crise global.
A coordenadora fez uma ressalva. Embora o resultado do ICE para a região tenha sido positivo, nem todos os países latino-americanos apresentam a mesma avaliação favorável, aos olhos dos analistas. Ela citou como exemplo a Venezuela, país com o pior clima econômico em julho entre os 11 pesquisados. “Há uma percepção de que a economia na Venezuela não apresenta sinais de estabilidade”, comentou.