FGV: câmbio melhora expectativa da indústria, mas é insuficiente para retomada

A desvalorização do real ante o dólar é o principal fator que pode explicar a relativa melhora das expectativas da indústria em outubro, por refletir um potencial impulso para as exportações. Esta é a avaliação do superintendente adjunto para ciclos econômicos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Aloisio Campelo Júnior. “Em um primeiro momento, a alta adicional do dólar no terceiro trimestre pode ter dado um efeito negativo sobre os balanços das empresas, já que muitas têm dívidas em dólar. Mas o efeito positivo do ponto de vista operacional deve passar a ser majoritário a partir de 2016”, afirmou.

Nesta quarta-feira, 28, a instituição informou que o Índice de Confiança da Indústria (ICI) avançou 2,3% neste mês, para 76,7 pontos, o segundo menor nível da série histórica iniciada em abril de 1995. Segundo o especialista, os dados sinalizam que a indústria continuará apresentando resultados negativos no quarto trimestre de 2015. A intensidade da queda, no entanto, deve ser menos intensa que a registrada nos últimos meses.

Na avaliação de Campelo, a recente valorização do dólar ante o real, para o nível próximo de R$ 4, pode ter se somado ao ambiente de incertezas políticas e impactado de maneira negativa a indústria. No entanto, se o câmbio se estabilizar neste nível nos próximos meses, os processos de substituição de importações e de aumento das exportações devem se sobrepor ao efeito negativo de aumento dos custos de insumos. “Se isso ocorrer e o mercado interno parar de piorar, pode até ser que a confiança da indústria passe a subir no ano que vem, mas isso ainda é difícil”, estimou.

Ele destaca que o aumento das exportações afeta positivamente todos os setores. Já o reflexo negativo sobre o custo de insumo é limitado. Em outubro, a proporção dos empresários que percebiam o nível da demanda externa como forte foi de 10,6%, contra 2,6% em outubro de 2014. Já a parcela dos que avaliam como fraca permaneceu praticamente estável, oscilando de 27,9% para 27,7% no período.

Emprego

Outro componente que contribuiu para o avanço das expectativas em outubro é o indicador que mede a intenção das empresas em contratar. A melhora, porém, não sinaliza para um estancamento das demissões no setor. “Do avanço deste índice, 85% representam a mudança de empresas que, em setembro, diziam que pretendiam fazer demissões nos próximos meses e que, em outubro, passaram a afirmar que manterão o quadro atual de funcionários, o que não significa que irão contratar”, detalhou Campelo.

Na passagem de setembro para outubro, a proporção de empresas prevendo ter um quadro de funcionários maior nos meses seguintes subiu de 6,1% para 7,8%. No mesmo sentido, a parcela das que preveem demitir recuou de 34,% para 24,9%. O especialista explica que, como o indicador é ajustado sazonalmente, este movimento não é influenciado por expectativas relativas a contratações de fim de ano.

O cenário não chega a ser de otimismo já que a percepção dos empresários do setor sobre a situação dos negócios nos próximos seis meses caiu 0,9% entre setembro e outubro, sinalizando, como destacou Campelo, que a melhora das expectativas é pontual e não reflete uma confiança maior sobre o ambiente de negócios em um horizonte de tempo mais amplo. “Ainda tem muita incerteza em boa parte devido ao front político, sobre como vai ser o formato final do ajuste fiscal, se haverá uma melhora do ambiente para negócios, se o câmbio vai estabilizar neste nível”, resumiu.

Apesar de ainda não haver dados antecedentes suficientes para estimar a produção no quarto trimestre, Campelo calculou que, no ano, a produção da indústria deve registrar recuo entre 8,5% e 9,0% na comparação com o ano passado.

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