O Brasil foi o único da América Latina que inspirou menor otimismo sobre o clima econômico no trimestre até janeiro deste ano. Em todos os outros dez países pesquisados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com o instituto alemão Ifo, o indicador que monitora as tendências da economia melhoraram ou ficaram estáveis (como Argentina e Venezuela).

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O Índice de Clima Econômico (ICE) do Brasil recuou 6,3%, para 89 pontos. “Ninguém piorou além do Brasil. Mas, mesmo havendo essa piora, a avaliação ainda é melhor do que em julho de 2013 (75 pontos)”, destacou a coordenadora de projetos do Centro de Estudos do Comércio Exterior do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Lia Valls.

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Segundo Lia, a piora é sentida tanto em relação ao consumo quanto ao investimento, na situação atual e no futuro. “Há perspectivas de crescimento econômico menor, desvalorização cambial, inflação maior. Isso contribui para uma avaliação não favorável do momento atual de consumo e investimento, e também das expectativas”, disse Lia, acrescentando que o cenário macroeconômico brasileiro ainda tem um fator complicador para este ano: as eleições.

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O Brasil ainda aparece como um dos mais vulneráveis e sujeitos a turbulências em função da normalização da política monetária dos Estados Unidos, o tapering. Como o País sustenta juros mais elevados do que outros lugares, a maior liquidez internacional financiou grande entrada de capital, além de ter ajudado a impulsionar os preços das commodities (que o Brasil exporta em grande volume), ressaltou Lia.

“Agora mudou o cenário totalmente com a perspectiva de aumento dos juros americanos. Temos ainda questões internas, como inflação, política fiscal. Isso configura um cenário menos favorável para o Brasil.”

Para Lia, a fragilidade do Brasil e de outros países da América Latina se dá porque a taxa de poupança é muito pequena, e há déficit em conta corrente. “Ao contrário da Ásia, que tem a poupança maior, a América Latina fica numa situação mais vulnerável”, afirmou Lia. Apesar disso, ela ressaltou que, quando a pesquisa foi realizada, não havia ocorrido a recente turbulência no mercado de câmbio – o que, ela não descarta, pode afetar a próxima sondagem.

Cenário externo

A alta dependência das exportações brasileiras em relação à China também pode estar contribuindo para essa deterioração na avaliação dos especialistas, já que a própria China registra recuo no indicador de clima econômico (de 112 para 107 pontos, ainda na zona favorável acima dos 100 pontos). “O Brasil está mais atrelado à China, que está em desaceleração, enquanto o México está mais atrelado aos Estados Unidos, que apresenta trajetória de melhora e recuperação”, disse Lia. O México registrou crescimento de 15,7%, de 89 para 103 pontos.

Peru e Colômbia, segundo Lia, inspiram boas perspectivas. “Algumas pessoas associam isso ao comprometimento em participar do Acordo Transpacífico”, disse. No caso da Colômbia, ainda, conta o aumento de Investimento Estrangeiro Direto (IED) no setor de petróleo e gás. Chile, por sua vez, aguarda com um pouco de cautela o início do novo governo de Michelle Bachelet.

Paraguai e Uruguai mostraram melhora no clima econômico, o que reforça, segundo Lia, a ideia de que o contágio devido a crise na Argentina não é tão simples. “Apesar de 8% das exportações do Uruguai irem para a Argentina, o país compensa facilmente exportando para outros lugares. É diferente de 2001, quando o reflexo veio no fluxo de capital.”