FGV: após longa expansão, Brasil já está em recessão

Criado em 2004, o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), veio a público pela primeira vez na manhã de hoje e disse que, depois da expansão mais longa vista nos últimos 30 anos – que ocorreu no período entre o terceiro trimestre de 2003 e o terceiro trimestre de 2008 -, o Brasil está em recessão.

“Não há dúvida de que há recessão de pelo menos seis meses e não há indicação de que estamos saindo dela”, disse o integrante do Comitê e pesquisador da FGV, João Victor Issler. “Os dados são insuficientes no momento para que se faça uma datação de término”, declarou o vice-presidente do Ibre-FGV, Vagner Ardeo.

Issler informou que, além do Produto Interno Bruto (PIB), o Comitê usa uma série de outros indicadores como os de emprego, vendas, produção e renda, que já têm resultados para os primeiros meses deste ano e que indicam que a queda da atividade econômica não ocorreu só na indústria, mas também em outros setores. “Depois da queda brusca na produção industrial, outros setores começaram a acompanhar os movimentos negativos”, disse.

O Comitê é coordenado pelo ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore e pelos pesquisadores Dionísio Dias Carneiro Neto (Casa das Garças), Marcelle Chauvet (Universidade da Califórnia), Marco Bonomo (FGV), Paulo Picchetti (FGV), Régis Bonelli (FGV) e Issler. João Victor Issler e Marcelle Chauvet são os dois pesquisadores nascidos no Brasil com maior número de artigos publicados sobre ciclos econômicos, segundo a FGV. Apenas Marcelle Chauvet, Issler e Bonelli participaram da entrevista à imprensa.

Bonelli foi menos afirmativo. “Suspeitamos que estamos em recessão”, declarou. “Suspeitamos não, estamos em recessão”, disse Marcelle Chauvet, relatora da apresentação. “Se tivesse alguma dúvida, a gente não teria decretado (o pico da expansão anterior no terceiro trimestre de 2008 e que o Brasil já entrou em recessão)”, disse em nome do Comitê.

Issler observou que o período desta primeira divulgação do Codace vai até o quarto trimestre do ano passado, mas que está implícito que o Comitê vê continuidade da recessão no primeiro trimestre deste ano, ou não teria definido o pico do período de expansão anterior no terceiro trimestre de 2008.

O conceito de recessão usado pelo Comitê não é o de dois trimestres consecutivos de queda do PIB e sim o do período de pelo menos seis meses entre o pico e o vale da atividade econômica. Já os períodos de expansão, no conceito de ciclos econômicos, vão do vale ao pico.

O pico no Brasil foi no terceiro trimestre do ano passado. O Codace ainda não estabeleceu em que mês. “Uma vez que se estabelece o pico e o vale, define o ciclo”, disse Chauvet. Em relação ao País, Ardeo explicou que mesmo que haja uma recuperação neste segundo trimestre isso não necessariamente significará que passamos para um período de expansão.

Nível mundial

“Nos Estados Unidos e em outros países não se usa essa definição de dois trimestres seguidos de PIB. Você pode ter crescimento forte do PIB e ainda assim ter recessão”, afirmou. Chauvet observou que a atual recessão norte-americana já tem 18 meses (iniciada em dezembro de 2007) e é a mais longa no pós-guerra. Já a grande depressão norte-americana a partir de 1929 durou 43 meses.

De acordo com o Codace, do primeiro trimestre de 1980 até o quarto trimestre de 2008, a economia passou por sete ciclos de negócios completos, com duração média de expansões de 10,4 trimestres e de recessões de 5,4 trimestres. A maior recessão foi entre o terceiro trimestre de 1989 e o primeiro trimestre de 1992. “Nenhuma das quatro recessões ocorridas a partir do período de inflação mais baixa, após 1994, durou mais do que cinco trimestres”, diz texto do Codace.

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