Após uma longa recessão, a atividade econômica brasileira entrou num período de expansão a partir do primeiro trimestre de 2017, mas a retomada tem sido mais lenta do que nos períodos de crise registrados no passado, segundo avaliação do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos da Fundação Getulio Vargas (Codace/FGV).

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O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro encolheu 8,6% em 11 trimestres de recessão. Em reunião na última sexta-feira, o Codace, órgão independente criado pela FGV para acompanhar os ciclos da economia, identificando períodos de expansão e retração, marcou o quarto trimestre de 2016 como o fim da recessão. Segundo o comitê, o ciclo de retração tinha começado no segundo trimestre de 2014.

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“Além de a recessão terminada no quarto trimestre de 2016 ter sido longa e intensa, o comitê avaliou que a recuperação tem se mostrado até aqui lenta em comparação com o padrão observado nas saídas de recessões anteriores”, declarou o Codace em comunicado divulgado nesta segunda-feira, 30.

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O comitê avaliou que a recessão de 2014-2016 foi a mais longa entre as nove datadas pelo órgão a partir de 1980, empatada com a de 1989-1992. A perda acumulada pelo PIB também foi a mais intensa da série histórica, mas muito similar com a queda de 8,5% do PIB na recessão de 1981-1983. O cálculo teve como base os dados das Contas Nacionais apuradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A recessão ficou para trás, mas ainda há um caminho considerável até que a economia nacional se recupere. A atividade econômica teria ainda que crescer 4,3% a partir de 2019 para retornar ao nível de 2014, quando o ciclo recessivo começou, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Considerando o crescimento populacional, o Brasil só se recuperará em 2022, conforme cálculos da LCA Consultores.

As projeções do Ipea apontam crescimento de 0,7% no PIB de 2017, seguido de avanço de 2,6% em 2018. Por isso, para voltar ao nível anterior à recessão, faltaria crescer 4,3%, avanço difícil para um ano apenas. Ainda assim, o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo de Castro Souza Júnior, não descarta crescimento acelerado em 2019. “Não é fácil, mas não é impossível. Há ainda indefinições acerca de reformas e do cenário político, mas, havendo ambiente favorável, é possível crescer mais”, disse.

Souza Júnior lembrou que o cenário externo está atualmente favorável ao crescimento econômico, o que compensa em parte o impacto negativo da crise política doméstica. Entre as pendências para a aceleração no ritmo de crescimento da economia estão as reformas tributária e da Previdência, a revisão de programas de governo e os avanços em normas regulatórias. “É importante aprovar as medidas necessárias para promover o ajuste fiscal e modernizar a economia”, afirmou o diretor do Ipea.

Para Mônica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington (EUA), a recuperação será lenta. “A gente está saindo da recessão sem investimento. Tem um lado da economia que, claramente, não tem recuperação. Não tem, em grande parte, por causa desse quadro político ruim, que vai continuar com a gente até 2018”, afirmou a economista, que vê as eleições do próximo ano como o grande fator de incerteza para o crescimento da economia.

O economista-chefe da LCA Consultores, Braulio Borges, também vê o Brasil saindo da recessão em marcha lenta. As projeções da LCA apontam que o PIB per capita, ou seja, dividido por cada habitante do País, deverá retomar o patamar de antes da recessão apenas na virada de 2021 para 2022. Borges prefere olhar para o PIB per capita porque o crescimento populacional ajuda a atividade, mas, quando a economia retrai e a população segue crescendo, o efeito da recessão sobre as pessoas é maior.

Por isso, o economista resiste em classificar a recessão de 2014 a 2016 como a maior da história. Em termos de perda acumulada do PIB, a queda de 8,6% supera os 8,5% da recessão de nove trimestres entre 1981 e 1983, conforme a datação do Codace. Só que, naquela época, a população crescia em ritmo acelerado. Assim, nas contas de Borges, o PIB per capita encolheu 13% ante 11% na recessão recente. Dados históricos compilados pela LCA apontam recuos maiores no PIB per capita também nas recessões da Grande Depressão dos anos 1930 (13%) e de 1891 a 1893 (22%).

Para Borges, essas recessões foram maiores porque atingiram mais a economia real. “Para uma mesma queda de PIB, se a população cresce mais, o desemprego também vai crescer mais”, disse o economista.