Apesar de os indicadores das sondagens conjunturais apontarem tendência de aumento da taxa de desemprego no País, o ajuste esperado na economia brasileira deve ficar para 2015, afirmou no início da tarde desta sexta-feira, 11, o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Neste ano, o desemprego deve continuar baixo, ajudado pelas contratações temporárias por causa da Copa do Mundo e das eleições, bem como pela saída de pessoas do mercado de trabalho.
“O maior ajuste no emprego será no ano que vem. Neste ano, a taxa de desemprego não deve aumentar tanto”, disse Barbosa Filho, ressaltando que, além dos eventos, a sazonalidade do segundo semestre já é de desocupação menor. Para o ano que vem, contudo, não há otimismo. “Acho difícil controlar a inflação e fazer tudo o que é preciso (na economia) sem gerar recessão no mercado de trabalho”, acrescentou.
Segundo o economista, o ajuste é urgente e terá repercussão direta no bolso dos consumidores, não apenas na forma de desemprego. “É impossível ter ajuste no mercado de trabalho sem ter queda no rendimento real”, advertiu. Em junho, o Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) recuou 4,5%, após duas quedas intensas em abril e maio. “A expectativa de geração de emprego é muito ruim, há uma deterioração muito grande. (O nível) Só não atinge a crise de 2009. Ainda”, disse o economista.
Aos 75,7 pontos, o IAEmp é o mais baixo desde maio de 2009. De acordo com Barbosa Filho, o resultado vai ao encontro das estatísticas que mostram a menor geração de vagas nos últimos anos, principalmente nas regiões metropolitanas, foco da desaceleração econômica. O dado ainda retrata o pessimismo de empresários, que abandonam as tentativas de retenção de mão de obra enquanto ainda esperam melhora da atividade.
Já o Indicador Coincidente de Desemprego (ICD) avançou 0,3% em junho. “Desde abril de 2013, nós esperamos uma piora no mercado de trabalho. Mas o desemprego não aumenta porque a PEA (População Economicamente Ativa) não aumenta”, comentou Barbosa Filho. A saída de pessoas tem deixado a taxa de desemprego em patamares historicamente baixos, apesar da baixa geração de vagas. “Parece que a estatística é boa. O desemprego não aumenta, o que é importante num ano eleitoral. Mas a situação no mercado de trabalho está mais complicada e não deve melhorar”, afirmou.
A grande incógnita entre os analistas é quem está deixando o mercado de trabalho e por quê. Segundo o pesquisador do Ibre/FGV, há uma conjunção de fatores que podem explicar esse movimento, embora não haja nenhum estudo conclusivo sobre o tema. Entre as hipóteses, o próprio mercado de trabalho mais enfraquecido serve de desestímulo. “Se você procura trabalho por muito tempo e não encontra, desiste”, sentenciou.
Também podem estar contribuindo o aumento da renda familiar, que reduz a disposição das pessoas em ofertar trabalho, e o maior número de vagas para estudar (inclusive com preços e condições mais acessíveis). No caso do orçamento, os programas de distribuição de renda e os próprios ganhos reais nos salários dos pais aumentam o custo de oportunidade do jovem. “Aumentando a renda dos pais, o mínimo para o jovem sair de casa é maior. O fato de a PEA estar caindo tem a ver com este salário reserva, e essa conjunção de fatores está diminuindo a oferta de trabalho”, observou.
Para o ano que vem, restam incertezas sobre o tamanho do ajuste e quanto tempo ele vai durar até que a economia e o mercado de trabalho engrenem novamente. Na visão de Barbosa Filho, as mudanças podem ser graduais, ou o presidente eleito pode optar por um “tratamento de choque”, realizando um grande ajuste (opção pela qual o pesquisador advoga). “Mas é uma decisão política”, ressaltou.