Os americanos estão acompanhando o comprometimento das lavouras brasileiras de soja com a chamada "ferrugem asiática". Reportagem publicada anteontem pelo jornal The New York Times diz, por exemplo, que "o bom momento das exportações brasileiras de soja pode ser comprometido devido à ferrugem asiática que afeta a produção". Segundo analistas ouvidos pelo jornal, é improvável que supere os EUA em produção na safra 2005-06.
"Os dias de euforia estão terminando", disse o patologista de plantas, especialista em soja da Embrapa, Ademir Henning, ao NYT. "A margem de erro agora está se estreitando. Se os produtores não investirem o necessário para melhorar o gerenciamento da lavoura e o combate à ferrugem, vão perder uma boa porção de sua produção e acabar quebrando."
O Brasil deve produzir na próxima safra entre 61,4 milhões e 64,5 milhões de toneladas de soja, dependendo da previsão, com pequeno aumento da área plantada. Os EUA, por sua vez, colherão 85,7 milhões de toneladas de soja, contra 66,8 milhões na última safra, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA.
Os primeiros focos de ferrugem na América do Sul foram observados em 2001. Já naquele ano, o fungo contaminou a produção brasileira, entrando pela fronteira do Paraguai e do oeste do Paraná. Desde 2001, o prejuízo em toneladas de grãos perdidos já cresceu seis vezes no Brasil.
A ferrugem provoca desfolha precoce da soja e redução de peso do grão. Isso faz com que a colheita seja antecipada e a produção seja menor. A doença é disseminada pelo vento e infecta plantas voluntárias (germinadas de grãos perdidos na colheita) e soja irrigada para a produção de sementes.
Os primeiros sintomas são caracterizados por minúsculos pontos escuros (no máximo um milímetro de diâmetro) no tecido sadio da folha, com coloração que varia de esverdeada a cinza esverdeada, observados mais facilmente contra um fundo claro. O combate é feito com o uso de fungicidas. Estudos da Embrapa mostraram que eles protegem a produção por cerca de 25 dias.
Fungicidas
Para as empresas de insumos químicos, como Bayer CropScience e Dow Chemical?s AgroSciences, que produzem, entre outras coisas, fungicidas, o ataque de ferrugem asiática não é má notícia, diz o NYT. Os produtores brasileiros deverão gastar US$ 500 milhões (em torno de R$ 1,5 bilhão) em fungicidas nesta safra para combater a ferrugem da soja.
"O surgimento da ferrugem da soja criou um novo e promissor mercado", disse o diretor de relações institucionais da Bayer CropScience em São Paulo, Peter Ahlgrimm, ao jornal americano.
A Embrapa está investindo pesado em um projeto que procura desenvolver sementes de soja resistentes à ferrugem ou que requeiram menos fungicidas até 2007. Até agora, cerca de US$ 6 milhões (aproximadamente R$ 18 milhões) foram destinados ao projeto.
Queda de preços
O problema se torna ainda mais agudo se for levada em conta a queda de quase 30% do preço da soja desde que atingiu seu mais alto nível em mais de 15 anos, em março de 2004, reduzindo as margens de lucro, lembra o diário americano. "A depreciação deveu-se, em grade parte, à decisão da China de cortar as importações e da colheita recorde nos EUA, maior produtor e exportador do mundo."
Quando os preços atingiram seu pico em março, os compradores pagavam até US$ 20 (aproximadamente R$ 60) por saca de 60 kg de soja no mercado interno. "Nessa época, a maior parte dos produtores podia arcar com os fungicidas e ainda tirar bons lucros. Agora, com os preços em torno de US$ 12,50 (cerca de R$ 37,50) por saca, muitos temem ficar no vermelho."
Ministro descarta prejuízos
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, afastou, ao menos por enquanto, a possibilidade de prejuízos na safra 2004/2005 de soja devido à ferrugem asiática. Rodrigues reconheceu que a última safra de soja sofreu perdas próximas de US$ 3 bilhões por causa da ferrugem, mas destacou que o governo possui uma força-tarefa cuidando de ações para impedir o avanço da doença neste ano.
Segundo o ministro, a ferrugem da soja é hoje controlada com defensivos agrícolas, mas a solução definitiva só se dará com a utilização de variedades resistentes ao fungo. Hoje cerca de 80% das plantações de soja no mundo estão sujeitas à ferrugem asiática caso não haja tratamento preventivo.