Ferrovia privatizada mostra resultados

As primeiras concessões das ferrovias federais à iniciativa privada estão completando 10 anos. Os resultados alcançados até agora são expressivos, segundo a 11.ª edição da ?Série Estudos Ferroviário?, desenvolvida pelo Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre). A publicação revela que colocar as ferrovias em concessões foi uma iniciativa que deu certo e tirou a malha ferroviária brasileira do abandono.

Para o diretor executivo do Simefre, Francisco Petrini, a avaliação sobre as concessões é ótima, pois houve um aumento de produtividade desde 1996, ano das primeiras transações. Estima-se que o crescimento tenha alcançado 40% em 10 anos. Dados da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) prevêem crescimento entre 9% e 11% em 2006, atingindo 434,7 milhões de toneladas transportadas. ?No início das concessões, as empresas tiveram muito trabalho para acertar tudo. Somente três ou quatro anos depois é que começaram a cuidar do transporte em si. As empresas estão conseguindo resultados extraordinários, além de tirar um enorme prejuízo dos ombros do Estado?, comenta. A Rede Ferroviária Federal (RFFSA) chegava a um déficit anual de R$ 500 milhões.

Petrini explica que existe uma demanda reprimida nas ferrovias brasileiras. Elas representam 24% de todos os transportes utilizados no País, sendo que este índice cairia para 9% se fossem desconsideradas as cargas de minério. A meta é que o número chegue a 32% nos próximos sete anos. ?Mas há muito o que fazer para chegar neste ponto. Além da melhoria das vias, existem as compras de materiais e equipamentos para dar ao País um modal de transporte competente como este?, opina. O governo federal ficou apenas com a incumbência de melhorar as ferrovias e ampliar a malha, investimentos que não estão sendo feitos, de acordo com Petrini.

ALL investe para reduzir acidentes e transportar mais

A América Latina Logística (ALL) é a empresa que detém a concessão da malha ferroviária federal localizada no Paraná (2.038 quilômetros). Ainda controla ferrovias nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e na Argentina. Detém 20.495 mil quilômetros de ferrovias, sendo a maior da América do Sul no setor.

O diretor de Industrializados e Mercosul da ALL, Alexandre Campos, conta que a empresa conseguiu mais do que dobrar o volume transportado em nove anos de concessão. Foram 11 milhões de toneladas transportadas em 1997. Em 2005, o número chegou a 24 milhões de toneladas. Somente no Paraná, o volume movimentado pela ALL cresceu 18% no ano passado, em relação a 2004.

A empresa fez investimentos de quase R$ 1 bilhão em diversas áreas para alcançar estes índices e uma redução no número de acidentes, muito menor do que o permitido pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). ?Conseguimos ainda diversificar os produtos transportados, não só commodities agrícolas. Isso é bom porque dá uma alternativa de transporte para quem dependia só do rodoviário?, comenta.

Campos revela que a intenção da ALL é continuar crescendo em torno de 15% ao ano. Para ele, a mudança cultural do sistema rodoviário para o ferroviário já é uma realidade no País. ?A matriz de transporte do Brasil é muito calcada no rodoviário. O transporte ferroviário é mais barato, seguro e eficiente, principalmente em grandes distâncias. Mas ainda falta muito para alcançar o patamar de países desenvolvidos, onde as ferrovias são muito utilizadas. Existe a oportunidade se crescer ainda mais e há demanda para isto, sem a necessidade de se construir novas linhas férreas, a não ser em necessidades pontuais?, relata Campos. A responsabilidade de construção de novas linhas é do governo federal. (Joyce Carvalho)

Estudo também aponta falhas e necessidades do setor

A 11ª edição da ?Série Estudos Ferroviário? também aponta algumas falhas e necessidades das ferrovias do Brasil. A publicação indica que há indefinição quanto aos investimentos na infra-estrutura existente e a criação de novas linhas. Outros problemas são as invasões próximas às ferrovias e as passagens em níveis, que atrapalham a circulação dos trens e ainda podem causar acidentes.

Se o transporte ferroviário de cargas anda bem, o mesmo não acontece com o transporte de passageiros, hoje concentrado apenas em São Paulo e Rio de Janeiro. Não existem encomendas freqüentes no mercado interno, o que faz o setor sobreviver apenas com as exportações, direcionadas para os metrôs de Nova York, Santiago e Buenos Aires. ?As compras estão paradas. Nos últimos cinco anos, ainda houve trechos de expansão do metrô em São Paulo. Os incentivos neste setor estão longe. As cidades com mais de 500 mil habitantes precisam pensar em um sistema de metrôs e trens, que atendem a uma grande demanda?, enfatiza Francisco Petrini, do Simefre.

O relatório serve como fonte de consulta para entidades, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES), para futuros investimentos na área. (Joyce Carvalho)

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