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‘Fed pode subir juro com corte de impostos’, diz Barry Eichengreen

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode adotar um ciclo de alta de juros maior do que três ou quatro elevações previstas pelo mercados financeiros para 2018, caso seja aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos um programa de corte de impostos, que ocorreria no pior momento, quando a economia do país se aproxima do pleno emprego, comentou o professor Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Em entrevista exclusiva ao Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado), ele apontou que tal fato o deixa “preocupado”, porque o nível de atividade hoje da economia americana não tem folgas e isso pode provocar alta de salários, aumento da inflação e do ritmo dos Fed Funds. “E uma política fiscal expansionista será acompanhada por uma política monetária mais contracionista, que poderá criar uma bolha nos mercados financeiros nos EUA e causar problemas para países emergentes.” A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. avalia a evolução da economia dos EUA?

Está relativamente saudável porque o crescimento continua em bom ritmo e a taxa de desemprego deve continuar diminuindo e atingir níveis baixos, se nada significativo ocorrer. A economia está próxima do pleno emprego. E isso deixa-me preocupado.

Por quê?

Por causa da chance de ocorrer um programa de corte de gastos do governo dos EUA no pior momento, porque a economia está próxima do pleno emprego. Eu penso que isso poderá expandir o déficit comercial, apreciar o dólar, e o presidente Donald Trump ficará insatisfeito. Tudo isso pode levar seu governo a responder com o início de uma batalha com o Fed, que poderá responsabilizá-lo pelo dólar mais forte. O presidente pode brigar com governos de outros países, pelo aumento do déficit comercial americano e com outros bancos centrais, pois poderá culpá-los pelo vigor do dólar ante outras divisas. Eu penso que há riscos.

O sr. está dizendo que com a aprovação da reforma tributária, há riscos de a inflação subir com vigor com o aquecimento do nível de atividade, levando o Fed a acelerar o ritmo de alta de juros em 2018?

Exato. Há dois fatores que elevam as chances de aumento do ritmo de altas de juros no próximo ano. O primeiro é o corte de gastos, o que eu não chamaria de reforma tributária. O segundo é o fato de que como estamos nos aproximando do pleno emprego, os salários tendem a acelerar de forma significativa. Talvez a taxa de desemprego ficará abaixo de 4%, mas não pode cair para sempre. O risco do corte de impostos e de elevação de salários é o de provocar uma velocidade mais rápida de elevação de juros pelo Fed. Os mercados esperam três ou quatro altas de 0,25 ponto porcentual no próximo ano, mas podem estar subestimando quanto os Fed Funds podem subir em 2018.

Caso o Fed adote um ciclo de maiores altas de juros no próximo ano, tal fato poderá causar excessiva volatilidade nos mercados financeiros globais?

O que podemos dizer com certeza é que a atual baixa volatilidade dos mercados financeiros não é eterna. Não sabemos quando a volatilidade vai subir, nem qual será o fator que deflagrará esse processo, mas esse fator pode ser o movimento de alta de juros pelo Fed. Um outro elemento que poderia seria uma desaceleração mais dramática da China.

Num contexto de aceleração de alta de juros pelo Fed e reação negativa dos mercados, a economia dos EUA poderia na sequência ingressar num processo de recessão?

A economia está indo bem no momento e penso que rápidas mudanças de políticas podem mudar essa condição, é claro. Quando digo que agora é o pior momento para realizar uma política fiscal expansionista é porque não há folga no nível de atividade dos EUA. E uma política fiscal expansionista será acompanhada por uma política monetária mais contracionista que poderá criar uma bolha nos mercados financeiros nos EUA e causar problemas para os emergentes.

Quais problemas?

Como o que vimos em 2013, com o Taper Tantrum (Naquele ano, o então presidente do Fed Ben Bernanke sugeriu que o Fed começasse a reduzir um programa de compras de títulos para estimular a economia, com isso os juros dos títulos deram um salto).

Quais o sr. avalia a política comercial do governo Trump?

São alarmantes. Por exemplo: se essas políticas fortalecerem o dólar, como nos anos 80, quando o presidente Ronald Reagan e o presidente do Fed Paul Volcker adotaram um conjunto de medidas semelhantes, o dólar mais forte ampliou o déficit comercial. Se isso ocorrer novamente, vai antagonizar com o presidente Trump. Nesse cenário, ele pode responsabilizar outros países, culpando nações que exportam mercadorias tangíveis, como aço e aviões, produtos que o Brasil vende. Há um risco para o Brasil de adoção de ações contrárias a suas exportações, como medidas antidumping.

Quanto o sr. imagina que os EUA poderão crescer em 2018?

O que o FMI está projetando para o país no próximo ano, uma taxa ao redor de 2,5%, é provavelmente otimista se o corte de impostos for aprovado e se o Fed subir os juros com maior rapidez. Um número razoável de crescimento seria inferior a 2,5%.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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