Foto: Arquivo/O Estado |
Ben Bernanke, presidente do Fed: medo da desaceleração. |
O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) decidiu manter inalterado em 5,25% ao ano o juro básico no país, mas disse que a taxa pode ser elevada novamente se a inflação exigir. ?A extensão e o momento para qualquer aperto adicional que possa ser necessário para lidar com esses riscos (inflacionários) vão depender da evolução da perspectiva tanto para a inflação como para o crescimento econômico, tal como implicado pelas informações que estão por vir.?
O presidente do Fed, Ben Bernanke, havia apontado em julho para o desaquecimento da economia dos EUA como um contrapeso aos preços da energia, que vinham causando pressões sobre a inflação no país.
Os dados econômicos do país corroboraram a indicação de Bernanke: depois de um crescimento de 5,6% (dado anualizado) do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre deste ano, a economia desacelerou, para uma expansão de 2,5% no segundo. Em junho, a inflação subiu apenas 0,2%. O número de empregos criados no país foi de 113 mil em junho, menos que os 145 mil esperados.
Investidores do mundo todo entenderam que o comunicado não dissipou as incertezas que pairam sobre a economia americana. Em conseqüência disso, as bolsas de valores caíram nos Estados Unidos e na maioria dos países onde os mercados funcionavam quando a decisão foi anunciada. O Índice Dow Jones, o mais importante da Bolsa de Nova York, recuou 0,41% e a bolsa eletrônica Nasdaq declinou 0,56%. No Brasil, o Índice Bovespa (Ibovespa) apresentou desvalorização de 0,26%.
A pausa determinada ontem, pelo Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed foi a primeira desde que se iniciou o ciclo de aperto monetário no país, em junho de 2004. Naquele momento, a taxa básica estava em 1% ao ano. ?É pouco provável que a alta de julho tenha sido definitiva?, disse Stephen Buser, professor de Finanças da Universidade de Ohio. Para ele, ?o Fed indicou que a decisão foi uma pausa, e não o final? do ciclo de aperto monetário.
No comunicado, o Fed disse que, de um lado, ?o crescimento desacelerou-se depois de haver alcançado um ritmo elevado no início do ano?. Segundo a instituição, isso reflete, em grande parte, uma ?desaceleração gradual do mercado imobiliário residencial e os efeitos atrasados das altas precedentes dos juros e dos preços de energia?.
Alguns especialistas foram mais diretos em suas análises. ?Esperamos que o Fed responda às pressões inflacionárias com mais um aumento, de 0,25 ponto porcentual, em setembro e com outra elevação em dezembro?, afirmou a economista-chefe do banco de investimentos Lehman Brothers, Etha Harris.
A resseguradora Swiss Reinsurance, a agência de classificação de risco Standard & Poor?s e o banco de investimentos Bear Stearns também acreditam que o BC americano aumentará o juro básico até o fim do ano, provavelmente em 0,25 ponto porcentual.
Mantega diz que decisão do Fed beneficia o Brasil
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, considerou positiva a decisão do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) de manter os juros inalterados em 5,25%. Em entrevista à TV Bloomberg, o ministro afirmou que se trata de uma boa notícia, que vai acalmar os mercados mundiais e trazer de volta o otimismo que prevalecia na economia mundial antes das recentes altas dos juros nos Estados Unidos. Para ele, o impacto nas bolsas mundiais será positivo.
Falando especificamente sobre o impacto na economia brasileira, Mantega disse que a manutenção dos juros norte-americanos vai impulsionar ainda mais as exportações brasileiras, já que a tendência é que a economia mundial se mantenha em ritmo de crescimento acelerado. ?O Brasil vai exportar mais e isso significa que nossa economia vai continuar a crescer?, afirmou.
PIB
Na entrevista, Mantega reiterou que a economia brasileira deve crescer entre 4% e 4,5% neste ano – estimativa muito acima da mediana das projeções do mercado, de 3,6%, segundo o último relatório Focus. ?Estou otimista. Olho para as condições estabelecidas e vejo que nunca, na história, reunimos tantas condições de crescimento?, afirmou. O ministro destacou, como fatores para o crescimento, o aumento da massa salarial, do crédito consignado e do nível do emprego. Esses fatores, somados indicam para um aumento da demanda, puxando o crescimento.
Questionado sobre se os dados fracos da produção industrial de junho, medida pelo IBGE (-1,7% sobre maio), não interfeririam nessa projeção, o ministro disse que o desempenho da atividade industrial de junho foi impactada negativamente pela Copa do Mundo e por greves, que limitaram a entrada de insumos no País. ?Isso perturbou a produção?, ressaltou.
Dados antecedentes de julho, como o desempenho das exportações, da indústria automobilística e da construção civil, mostram que a atividade está muito melhor do que no mês anterior, afirmou. Com o aumento da demanda e os juros em queda, ?não há razão para que esse crescimento seja interrompido, já que, neste ano, o maior fator de crescimento é o mercado interno?. Além disso, o segundo semestre do ano será mais aquecido do que o primeiro, impulsionado também pela antecipação do 13.º dos aposentados.
Selic
Segundo Mantega, o Brasil reúne hoje todas as condições favoráveis para a queda nos juros. Ele ressaltou que a taxa básica de juros (Selic) completará, em setembro, um ano de reduções seguidas, e destacou que essa não é a única taxa de juros que importa para a economia brasileira – a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), por exemplo, lembrou o ministro, já caiu para 7,5%. Com a inflação sob controle, o equilíbrio fiscal, a baixa vulnerabilidade externa, ?as taxas de juros terão de cair no Brasil?, disse.
Mantega reforçou que, com a reunião de todas essas condições e mais o cumprimento da meta de superávit primário, a trajetória dos juros será decrescente e poderá chegar a 5% reais ao ano, ?mas não no curto prazo completou: ?Isto não é previsão para este ano, pois o Copom (Comitê de Política Monetária) tem toda a liberdade para definir a trajetória das taxas.