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Funcionários realizam
protesto em Maringá.

O frigorífico Margen começou a anunciar ontem a demissão dos 2,5 mil funcionários das quatro unidades da empresa no Paraná (duas em Maringá, uma em Paranavaí e outra em Lupionópolis). Na última terça-feira, os advogados do frigorífico informaram o desligamento de 11 mil funcionários nas 23 unidades espalhadas por oito estados. Outra conseqüência do fechamento das unidades é que a cotação da arroba do boi (de 30 quilos) na região de Maringá, já caiu em pelo menos R$ 2, e estava sendo negociada, ontem, a R$ 58,00, segundo a FNP Consultoria.

O Margen está com a produção parada desde a prisão de 12 pessoas ligadas à empresa – em operação da Polícia Federal no dia 1.º de dezembro – acusadas por crimes de formação de quadrilha, sonegação fiscal, sonegação de contribuições previdenciárias e lavagem de ativos. Quatro delas já foram soltas. Estima-se que o grupo tenha sonegado R$ 60 milhões de Imposto de Renda e mais R$ 85 milhões do INSS. Depois das prisões, a empresa não conseguiu créditos para a compra de gado e abate dos animais.

Cerca de 500 funcionários do frigorífico realizaram na manhã de ontem uma manifestação na rodovia PR-323, que liga Maringá a Paiçandu, por duas horas. Eles protestaram sobre as informações dos desligamentos, que foram provocados pela falta de perspectiva da empresa voltar a funcionar. O Margen já apresentou uma proposta de rescisão de contrato ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentos de Maringá e Região. Ela será discutida com os trabalhadores em assembléias a serem feitas hoje pela manhã.

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O presidente do sindicato, Rivail Assunção da Silveira, explica que as demissões de funcionários somente foram comunicadas em duas unidades (uma de Maringá e a de Paranavaí), que possuem 1,2 mil trabalhadores. Os empregados das outras duas sedes paranaenses ainda aguardam uma posição do frigorífico. "Apesar destes intervalos nos avisos, as demissões de todos os funcionários já está praticamente certa", afirma.

Silveira diz que o Margen já fez a proposta de rescisão dos contratos dos funcionários. O aviso prévio seria retroativo a 1.º de dezembro e pago no início de janeiro do ano que vem. O restante dos débitos seria saldado em cinco parcelas, que começariam a partir de fevereiro. "Nos reunimos com o Ministério Público do Trabalho em Maringá, que achou a proposta razoável em virtude da situação da empresa. Colocaremos em assembléia amanhã (hoje) para ver o que os trabalhadores vão decidir", comenta.

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O presidente do sindicato conta que as demissões já estavam sendo esperadas desde a paralisação dos abates, que ocorreu uma semana após as prisões. O que realmente pegou os funcionários de surpresa foi a proposta de aviso prévio retroativo. "Nenhum empregado sabia que estava de aviso prévio. Se os funcionários soubessem, já se preparariam para isto e evitariam gastos desnecessários neste final de ano. Pelo menos o resto está tudo certo. Todo o 13.º salário foi depositado e houve a antecipação de 40% do salário que seria pago em janeiro. A empresa sempre foi correta com seus empregados", avalia Silveira.

Ele acrescenta que os representantes da categoria querem negociar a continuidade das atividades do Margen ou interferir no processo para que outro grupo assuma o frigorífico. "Nosso representante em Brasília já está fazendo contatos com o Ministério do Trabalho, a fim de viabilizar a continuidade da produção. Outra saída seria um grupo diferente passar a controlar o Margen. Já existe notícias de que uma empresa de Maringá estaria interessada nesta possibilidade", aponta Silveira. Ele revela que o ministério não está dando a devida atenção ao caso. "Sabemos que o problema das prisões foi muito grave, mas os funcionários não têm nada a ver com isso", critica.

O frigorífico era responsável por toda a carne bovina do Paraná destinada à exportação. De janeiro a outubro deste ano, as negociações com o mercado externo totalizaram 41 mil toneladas e renderam quase US$ 96 milhões. O fechamento vai afetar muito o Estado, pois o Margen ajudava a elevar os preços praticados no mercado. Com isso, os produtores paranaenses recebiam quase o mesmo que os de São Paulo. Muitos criadores investiram no rebanho para a exportação, e agora não têm mais para quem vender os animais. O Margen está apenas trabalhando com os estoques. No ano passado, o grupo teve um faturamento de R$ 2,3 bilhões.

Os advogados do frigorífico, tanto em Maringá quanto em Rio Verde (Goiás) – onde a empresa está sediada -, não foram encontrados pela reportagem para comentar as demissões no Paraná.