O proprietário da fazenda Vezozzo, no Mato Grosso do Sul, onde foi constatada a febre aftosa em 153 animais, é paranaense. José Vezozzo tem uma fazenda em Marechal Cândido Rondon, na região Oeste, e arrenda a propriedade em Eldorado (MS). Os 582 animais da fazenda Vezozzo já estariam sendo sacrificados.
Com a decisão do governo paranaense, fica proibido o trânsito não só de bovinos, como de suínos, caprinos, ovinos, bubalinos, enfim todos os animais suscetíveis à febre aftosa, entre os dois estados. Também fica proibido o transporte de produtos e subprodutos desses animais. A única exceção é feita aos eqüídeos e aves. ?A medida visa resguardar o patrimônio agropecuário do Estado?, afirmou o secretário.
A principal fronteira entre o Paraná e o Mato Grosso do Sul é a ponte Ayrton Senna, em Guaíra (oeste do Paraná). Também há três passagens por balsa, de menor expressão. Os dois estados estão separados pelo Rio Paraná. ?O Ministério da Agricultura está tomando todas as providências e, no caso do Paraná, por ser um estado vizinho e estar entre 20 e 30 quilômetros do local onde ocorreu a epidemia, estão sendo intensificadas as ações de vigilância sanitária. Além disso, existe o Rio Paraná, grande barreira natural?, apontou o delegado do Ministério da Agricultura no Paraná, Valmir Kowaleski.
Entre as medidas tomadas pelo Ministério da Agricultura estão a interdição da propriedade, interdição de cinco municípios próximos, localizados em um raio de 25 quilômetros da fazenda – Eldorado, Itaquirami, Iguatemi, Mundo Novo e Japorã -, inspeção clínica, inspeção nas propriedades rurais e investigação epidemiológica para identificar a origem do foco. Até agora, sabe-se que a febre aftosa foi causada por um vírus tipo O, mas ainda não há informações sobre a origem. O ministério também já comunicou a ocorrência da doença à OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) em Paris, ao Panaftosa (Centro Pan-Americano de Febre Aftosa), aos países vizinhos e aos países e blocos econômicos com os quais o Brasil mantém intercâmbio comercial.
Com a confirmação da febre aftosa no Mato Grosso do Sul, o governo de Santa Catarina fechou suas divisas com o Paraná. Para o delegado do Ministério da Agricultura, a decisão é compreensível. ?O Paraná é uma espécie de estado ?tampão? dentro da filosofia agropecuária, em relação aos outros estados do Sul. A atitude de Santa Catarina tem sentido, porque o estado é livre de aftosa sem vacina?, explicou o delegado. O governo de São Paulo também proibiu o transporte de gado de cinco municípios do Mato Grosso do Sul para o estado por conta do risco de contaminação. Também o governo do Paraguai adotou plano de alerta para a fronteira com o Brasil.
Abastecimento
O presidente do Sindicato da Indústria de Carnes no Paraná (Sindicarnes-PR), Péricles Salazar, garantiu que o mercado paranaense não deve ter problemas de desabastecimento de carne com o fechamento das divisas. ?O Paraná é auto-suficiente na produção de carne?, afirmou. O mesmo não deve ocorrer com São Paulo, maior pólo consumidor do País. Sem importar mais carne do Mato Grosso do Sul, o estado poderá ter problemas em abastecer o mercado.
Com relação às exportações da carne brasileira, especialmente a paranaense, Salazar afirmou que ainda é cedo para fazer avaliações sobre a repercussão da febre aftosa no mercado internacional. Quase 15% da produção paranaense de bovinos é exportada.
Reflexo negativo nas exportações
Rio (AE) – O surgimento do foco de febre aftosa no Mato Grosso do Sul vai prejudicar as exportações de carne bovina do País, na avaliação da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Até então, a entidade estimava um crescimento de 28% nas vendas de carne ?in natura? este ano. O valor chegaria a US$ 2,5 bilhões, ante US$ 1,962 bilhão em 2004. ?Infelizmente, algum reflexo negativo vai ter, que não se pode quantificar agora?, disse o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro. Segundo a entidade, o risco é de que haja suspensão de importações do produto por um prazo grande. Além disso, os países que também exportam o produto e concorrem com o Brasil terão interesse em que haja a suspensão.
Um problema adicional é que o foco pode atrapalhar outra pretensão brasileira, que vinha sendo negociada: a entrada no mercado americano de carne não industrializada. Castro argumenta que as negociações estavam avançadas e que havia a expectativa de liberar o mercado americano para o produto. ?Se cancelar apenas as vendas originadas do Mato Grosso do Sul, dos males o menor?, afirmou.
Notícia derruba preço da arroba
Araçatuba (AE) – No momento em que o mercado vivia a recuperação de preços, o registro do caso de aftosa no Mato Grosso do Sul pegou de surpresa os criadores e derrubou ontem o preço da arroba do boi gordo em São Paulo. A arroba, que fechou a sexta-feira vendida a R$ 60 e tinha expectativa de alta para segunda-feira e mercado firme para a semana, foi negociada a R$ 58,00, uma queda de 3,3%. No mercado futuro, a queda foi ainda maior: fechada a R$ 62,80 na sexta-feira, a arroba foi negociada a R$ 59,02, uma queda de 6%.
Muitos frigoríficos suspenderam as compras em São Paulo, pois grande parte do gado vendido no Estado é proveniente de Mato Grosso do Sul. Entre três grandes frigoríficos exportadores, dois deles praticaram o preço de R$ 58,00, fechando as escalas para até quarta-feira, e saíram do mercado em seguida.
Igualmente, a maioria dos pecuaristas com gado fora de Mato Grosso do Sul também não ofereceu reses para venda, aguardando uma melhor definição de mercado. ?O mercado, que tinha tudo para explodir, acabou se transformando num caos?, resumiu Sérgio Galiano, da Lucra Corretora, de Araçatuba.
Palocci anuncia liberação de recursos
Em reunião com a bancada ruralista, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, prometeu liberar os recursos necessários para que o Ministério da Agricultura combata o foco de febre aftosa encontrado em Mato Grosso do Sul. Palocci e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, receberam os parlamentares para discutir a liberação de dinheiro para defesa sanitária e para apoiar a comercialização da safra de grão, mas o foco de aftosa acabou tomando conta da discussão.
?Essa é uma situação de urgência e, se não tomarmos medidas urgentes, as exportações de carne podem ser prejudicadas?, disse o deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO), presidente da Comissão de Agricultura da Câmara.
Segundo ele, Palocci disse que vai atender a todas as reivindicações do Ministério da Agricultura para contornar o problema. Entre as medidas que precisam ser adotadas estão a contratação de veterinários, o fortalecimento do controle de barreiras nas fronteiras com o Paraguai e o envio de uma missão brasileira à Organização Internacional de Epizootias (OIE). ?O ministro (Palocci) afirmou que vai fazer todos os esforços para conter a contaminação do rebanho?, disse o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo na Câmara dos Deputados.
Contingenciamento
O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Gabriel Alves Maciel, admitiu ontem que os recursos destinados à defesa animal estão contingenciados e que não foi liberada nenhuma parcela dos R$ 3,5 milhões previstos neste ano para o estado do Mato Grosso do Sul. Ele disse que o Ministério da Agricultura negociava com o Ministério da Fazenda a liberação imediata de R$ 35 milhões para defesa sanitária na região. Gabriel Maciel disse que não é fácil identificar de onde poderia ter vindo o foco da doença. ?É difícil buscar culpados. Não queremos trabalhar com hipóteses. Temos um problema e vamos resolvê-lo?, afirmou.
Desde 1999 não era registrado foco de aftosa no estado, que é o segundo maior exportador brasileiro de carne. No ano passado, o Mato Grosso do Sul exportou US$ 118 milhões em carne. De janeiro a setembro deste ano, já foram exportados US$ 222 milhões, só perdendo para São Paulo na exportação de carne.
?A primeira reação é lamentar o novo caso de febre aftosa em Eldorado (MS). Mas também não é possível deixar de compartilhar do sentimento de indignação do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, que não se cansa de solicitar recursos ao Ministério da Fazenda para cuidar da defesa sanitária animal do País e não recebe a devida atenção?, afirmou Emílio Salani, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan). ?O Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) é o órgão máximo da defesa sanitária brasileira e precisa ter condições de fazer a sua parte. Chega de improvisações?, desabafou.
Dez anos sem registro da doença
O Paraná não registra febre aftosa há dez anos. O último caso foi verificado em maio de 95, na região de Umuarama. Em 2000, o Estado foi reconhecido internacionalmente como área livre de aftosa com vacinação. Ao todo, existem 214.988 propriedades rurais com bovinos no Paraná, com rebanho de 10,094 milhões de cabeças – o que representa 5,5% do rebanho brasileiro, composto por 180 milhões de cabeças. Na última etapa da vacinação, 98,8% dos animais foram vacinados.
O delegado do Ministério da Agricultura no Paraná, Valmir Kowaleski, descartou a possibilidade de antecipar a campanha contra febre aftosa no Paraná. A próxima etapa está marcada para o mês que vem. ?Como se trata de uma epidemologia, não justifica a antecipação. O Paraná tem um alto índice de vacinação e uma alta imunidade?, afirmou. ?E como não há nenhum foco de aftosa, não justifica adiantar.? De acordo com o secretário estadual de Agricultura em exercício, Newton Ribas, no momento estão envolvidos 88 funcionários do Departamento de Fiscalização, Defesa e Sanidade Agropecuária (Defis) e 20 da Claspar. Entre as ferramentas na prevenção contra a aftosa estão visitas às propriedades rurais nos municípios onde há maior risco de incidência da doença. (LS)