Brasília – A redução da taxa básica de juros pelo Banco Central não é único fator que influencia o custo dos empréstimos bancários, afirmou ontem o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Gabriel Jorge Ferreira. Ao responder às críticas do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, de que os bancos cobram caro e não financiam a produção e o investimento, Ferreira citou a concorrência do Estado, que é tomador de recursos no mercado para cobrir suas despesas, o recolhimento de parte do dinheiro captado pelas instituições financeiras ao BC (compulsório), a cunha fiscal elevada e a inadimplência como os fatores que contribuem para que as taxas de juros das operações de crédito no País sejam elevadas.
“Foi um pronunciamento político. Uma manifestação importante diante do cargo que ocupa, mas acho que ele (Dirceu) compreende que as instituições financeiras têm dado a sua contribuição”, rebateu Ferreira.
Segundo ele, as medidas adotadas nos últimos anos e destacadas pelo ministro – como a internacionalização do sistema financeiro, o saneamento de bancos com o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro) e a criação do Sistema de Pagamento Brasileiro (SPB) – foram importantes para o fortalecimento do setor, mas há ainda outros componentes que influenciam o mercado.
“O SPB permitiu que o próprio governo saísse do risco sistêmico e a internacionalização estimulou a concorrência, mas o ambiente macroeconômico é impactado por diferentes problemas”, afirmou. “O governo ainda é um grande tomador de recursos e o nível de recolhimento compulsório e a cunha fiscal são elevados” disse, ressaltando que não vê uma solução para esses problemas no curto prazo. “Sei que o governo não pode abrir mão de receitas no momento de ajuste fiscal. Mas a sociedade tem de entender que os impostos oneram o custo dos empréstimos”, disse.
Lei de Falências
Outro problema destacado pelo presidente da Febraban são a inadimplência e a falta de instrumentos legais que assegurem melhores instrumentos de garantias. Por isso, ele defendeu a urgência nas discussões sobre a nova Lei de Falências, que está tramitando no Congresso Nacional.
“O setor financeiro é parceiro no crescimento do País. Estamos no mesmo barco”, argumentou Ferreira, ao garantir que, desde de junho, quando o BC iniciou a redução da taxa de juros, as instituições financeiras vêm acompanhando esse movimento. Nos seus cálculos, os bancos reduziram a taxa cobrada no cheque especial 10% em média.
Ele afirmou que, considerando todos esses fatores, o atual nível de taxa de juros é o possível. “As instituições financeiras têm consciência de que um cenário saudável, com crescimento do emprego e aumento da renda faz a economia funcionar”, disse.
