A situação do diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Mário Tóros, ficou insustentável no governo depois que o dirigente da instituição revelou detalhes da estratégia de atuação do governo para enfrentar os efeitos da crise internacional no sistema financeiro nacional. Pressionado internamente no BC, o diretor entrou também na mira da cúpula do Ministério da Fazenda. Segundo fontes próximas ao ministro Guido Mantega, Torós teria vazado, em entrevista ao jornal Valor Econômico, publicada na última sexta-feira, informações estratégicas sobre o arsenal do BC mobilizado para enfrentar a crise econômica.
Fora do governo, fontes do Ministério Público ouvidas pelo Grupo Estado informaram ontem que o diretor poderá ser alvo de uma ação para investigar a eventual quebra de sigilo. Na reportagem, está relatado um episódio que mostra que um diretor do BC deu ao então presidente do Banco do Brasil, Antônio Lima Neto, informações sobre o estado financeiro do Banco Votorantim.
Lima Neto, segundo a reportagem, pediu ao interlocutor do BC que a informação não fosse divulgada. “Não espalha essa história do Votorantim”, teria pedido o presidente do BB ao diretor do BC. Dois meses depois da conversa, o banco federal adquiriu metade do Votorantim por R$ 4,2 bilhões. A assessoria do BC, no entanto, confirmou que o diretor tem hoje compromisso público marcado em seminário no Rio de Janeiro, onde vai representar o banco. Segundo o órgão, Torós não estava disponível ontem para comentar o assunto.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, segundo fontes, teria ficado particularmente irritado com as acusações de Tóros de que ele, Mantega, teria causado sérios prejuízos ao declarar, em entrevista coletiva, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia proibido o BC de usar das reservas para ajudar a acalmar o mercado. Segundo a Fazenda, nesse mesmo dia, o ministro deu uma entrevista defendendo a utilização “de forma inteligente” as reservas internacionais.