A decisão anunciada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de retirada do IOF de 1% sobre a posição vendida líquida no mercado de derivativos cambiais “elimina uma distorção” que pode trazer alívio ao mercado cambial, mas não é só isso que definirá um comportamento de alta menos intensa do dólar em relação ao real. A avaliação é do economista-chefe do Besi Brasil, Jankiel Santos, que destacou que o atual momento cambial está muito mais dependente de fatores de fora do País do que de medidas tomadas pelo governo.
“A apreciação do real vai depender de outros fatores e não mais apenas do que eles – autoridades brasileiras – decidirem fazer”, disse Santos. “Dependerá, essencialmente, de fatores externos.”
Na avaliação do economista-chefe do Besi Brasil, tal dependência dos fatores de fora do País fica mais clara na medida em que um ajuste fiscal interno mais forte, que pudesse significar mais confiança quanto à economia brasileira, não está sendo colocado em prática. Segundo Santos, mais do que prometer metas de superávit primário e contingenciamentos, é necessário que ações claras sejam observadas. “É necessário que os cortes sejam feitos de fato”, disse.
O diretor de Pesquisas para a América Latina da Nomura Securities, Tony Volpon, classificou como positiva a decisão do governo de retirar o IOF sobre o mercado de derivativos cambiais. Mas também ressaltou que há uma tendência mundial de valorização da moeda americana por conta da perspectiva de gradual retirada da política de estímulos à economia pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA).
O executivo da Nomura destacou também que um dos efeitos da medida anunciada ontem, no curto prazo, é trazer de volta para a BM&FBovespa operações de câmbio que migraram para o exterior quando o imposto foi adotado em 2011.
“Pode ser que a medida de hoje (na terça-feira, 12) mais a retirada do IOF para investimentos estrangeiros em renda fixa anunciada na semana passada valorize o real ante o dólar e a cotação do câmbio poderá chegar a R$ 2,05 nas próximas semanas.”
Recuo
Para o gerente de câmbio da Correparti Corretora, de Curitiba, João Paulo de Gracia Corrêa, a retirada do IOF que incide em operações com derivativos cambiais deve fazer o dólar recuar, pelo menos em um primeiro momento. Para ele, a medida de ontem terá um impacto maior do que a zeragem do IOF em investimentos de estrangeiros em renda fixa, anunciada na semana passada.
“A medida dos derivativos terá um impacto mais imediato. O dólar já está em um limite muito alto em relação ao real, o que pressiona a inflação, e agora o investidor vai passar a vender moeda”, comentou.
Corrêa lembra que, com essa medida, resta apenas uma carta na manga do governo no que diz respeito ao IOF: a incidência de imposto de 6% em operações de crédito no exterior que tenham prazo inferior a 360 dias. “Mas a tendência é que o governo espere um pouco agora, porque na semana que vem teremos a reunião do Fed. Além disso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já sinalizou que poderá até mesmo atuar no mercado à vista para segurar o dólar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.