Fator Lula mexe coma cotação do dólar

São Paulo

– Rumores de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve crescer significativamente nas próximas pesquisas levaram o dólar a fechar ontem em alta de 1,74%, cotado a R$ 3,216, o nível mais elevado desde 31 de julho. O mercado teme que Lula vença as eleições no primeiro turno. O Banco Central (BC) vendeu cerca de US$ 50 milhões no mercado à vista, segundo operadores, mas não conseguiu impedir a terceira valorização seguida da moeda, que acumula um ganho de 6,84% no mês e de 38,86% no ano.

Os outros mercados foram duramente atingidos: os títulos da dívida externa despencaram, o que fez o risco País subir 3,6%, para 1.781 pontos, enquanto a Bolsa caiu 3,43%. A taxa dos contratos futuros de juros para janeiro, por sua vez, subiu de 20,45% para 20,97% ao ano. Além dos boatos sobre as sondagens eleitorais, o risco de guerra no Oriente Médio também contribuiu para o pessimismo. O analista Hélio Ozaki, da corretora Finambrás, diz que o cenário externo de fato preocupa, mas entende que o mau humor dos investidores se deve basicamente aos rumores sobre as pesquisas. Segundo os boatos, as sondagens do Ibope e do Vox Populi, que devem ser divulgadas hoje e quarta-feira, apontariam a ascensão de Lula e a perda de força de José Serra (PSDB), o candidato preferido do mercado. Dependendo do rumor, Lula teria entre 41% e 44%, e Serra, entre 19% a 20%. O que desagradou o mercado é a possibilidade de vitória do petista no primeiro turno. Segundo Ozaki, isso ainda não está refletido nos preços.

O diretor de Tesouraria do banco Lloyds TSB, Pedro Thomazoni, ressalta que Lula é visto com muitas reservas pelos investidores estrangeiros. “O mercado teme que, se Lula vencer, haja mudanças drásticas na política econômica”, afirma Ozaki.

O BC fez ontem um um leilão de linhas para exportação, vendendo US$ 15,764 milhões de uma oferta de US$ 30 milhões. A demanda atingiu US$ 42,764 milhões. Os bancos terão de devolver os recursos para o BC, em reais, em 17 de março de 2003, pagando uma taxa de 4% ao ano.

A pressão sobre o câmbio pode impedir que o Comitê de Política Monetária (Copom) corte os juros na reunião que começa hoje e termina quarta-feira. No último encontro da instituição o dólar estava na casa de R$ 3,10. Para o estrategista-sênior para a América Latina do banco Morgan Stanley, Jaime Valdívia, o Copom vai deixar a Selic inalterada em 18% ao ano, mas manterá também o viés de baixa definido na última reunião, que permite ao BC cortar os juros a qualquer momento. “A inflação continua acima das expectativas e, ao mesmo tempo, há novas evidências de que a depreciação do câmbio possa estar sendo refletida nos preços dos bens não comercializáveis internacionalmente.”

Já para o economista-chefe para América Latina do banco UBS Warburg, Michael Gavin, há várias razões para o Copom baixar os juros em 0,25 ponto porcentual. Segundo ele, nas vésperas da última reunião do Copom o risco país estava na casa de 2 mil pontos, e agora caiu para 1.781, por exemplo. “E também há boas notícias no aspecto de balança comercial”, acrescentou.

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