O consumo da região Nordeste dá sinais de arrefecimento. A inflação em alta, que penaliza principalmente as classes de menor renda, combinada com a redução do emprego com carteira assinada e a perda de confiança da população, estão tirando o fôlego das famílias da região, tida como a queridinha dos fabricantes de bens de consumo.

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Neste ano, a fatia do Nordeste no potencial de consumo do País deve diminuir em relação a 2014. Será a primeira queda de participação da região desde 2010, segundo um estudo feito pela consultoria IPC Marketing. Mesmo assim, o Nordeste continua sendo a segunda região com maior potencial de consumo, atrás do Sudeste, posição conquistada em 2008.

“A diminuição da fatia do Nordeste é a grande novidade”, afirma Marcos Pazzini, diretor da IPC Marketing e responsável pelo estudo. Neste ano, o Nordeste deve responder por 19% do total. Em 2014, a região atingiu uma participação recorde de 19,5%. Esse recuo deve significar R$ 17,148 bilhões a menos circulando no varejo da região.

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Num ano em que a expectativa é de queda no Produto Interno Bruto (PIB), o estudo mostra que todas as regiões, exceto o Sul, vão diminuir sua fatia no consumo nacional, projetado em R$ 3,37 trilhões para 2015 pela consultoria. Mas a maior perda de participação deve ocorrer no Nordeste. O arrefecimento do consumo no Nordeste ocorre porque a população de menor renda, grande usuária do crédito, não está indo às compras como foi no passado porque não sabe se continuará empregada.

Um pesquisa feita pela TNS a pedido da Acrefi, associação que reúne as financeiras, revela que subiu de 54%, em outubro, para 71%, este mês, a parcela de consumidores nordestinos que não está disposta a assumir um novo financiamento nos próximos meses.

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Além da menor predisposição para ir às compras, Pazzini lembra que, pelo novo critério de classificação socioeconômica da Associação Brasileira da Empresas de Pesquisa, usado por todas os levantamentos a partir deste ano, ficou mais difícil pertencer às classes A e B. Com isso, cresceu na região o número de domicílios com menor renda e poder de compra.

Emprego

Um sinal da desaceleração do Nordeste fica evidente no mercado de trabalho. No 1º trimestre, a região foi a que mais perdeu postos formais de trabalho, segundo dados do Caged, do Ministério do Trabalho. Foram fechadas 76.626 vagas. “Desde o fim de 2014, havia a expectativa de que o Nordeste poderia desacelerar. Era a única região que estava com um crescimento um pouco melhor, mas agora a crise parece ter chegado ao Nordeste”, afirma Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador da FGV.

A piora do mercado de trabalho se refletiu na queda do salário médio real de admissão. Entre janeiro e março, o valor pago para os contratados na região foi de R$ 1.051,92, cifra 3,48% menor frente ao 1º trimestre de 2014. O tombo nos salários também foi o maior registrado entre todas as grandes regiões.

A desaceleração do consumo deve ter reflexos no PIB da região. A consultoria Tendências projeta que o PIB do Nordeste deve crescer só 0,1% este ano. “Será a menor expansão desde 1999”, diz a economista Camila Saito. Entre 2009 e 2014, o PIB da região cresceu 3,5% ao ano, acima do desempenho do PIB do País, que avançou 3%. Camila observa que não há espaço para crescer por causa do impulso do Bolsa Família. Mas pondera que o desempenho da região deve superar o do PIB do País, que pode recuar 1,4% na sua projeção, e o do Sudeste (-2,6%), região mais castigada pela crise.

Desânimo

Com menos dinheiro no bolso, o nordestino começa a frear as compras. Segundo fontes do varejo, as vendas nos hipermercados no 1º trimestre foram menores em relação às do mesmo período de 2014 e nos supermercados houve empate. “á percebemos que as vendas do 1º trimestre tiveram crescimento menor”, diz o presidente da Associação Baiana de Supermercados, João Andrade.

Entre janeiro e março deste ano, a receita avançou 1,8% em relação a 2014, após ter crescido 5% no mesmo período do ano anterior. Essa desaceleração foi perceptível especialmente no interior do Bahia, em regiões ligadas à exploração de óleo e gás e que estão sentindo os efeitos da operação Lava Jato. Pesquisa da consultoria Nielsen mostra uma forte desaceleração no volume de vendas nos últimos meses no Nordeste.

Entre dezembro de 2014 e fevereiro deste ano, as quantidades vendidas de uma cesta com 131 itens, entre alimentos e produtos de higiene limpeza, cresceram 2% em relação ao ano anterior. No mesmo período de 2014, o aumento tinha sido de 9,5%. Essa piora pode ser explicada porque – assim como no País – o pessimismo com a economia também aumentou no Nordeste. O Índice Nacional de Expectativa do Consumidor, da Confederação Nacional da Indústria, mostra que em março 76% dos nordestinos esperavam alta da inflação e 64% aumento do desemprego em 6 meses. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.