O Paraná, que já ocupou na década de 90 a liderança na produção de peixes de água doce no Brasil, hoje está entre os dez estados que mais produzem. Na última safra atingiu cerca de 18 mil toneladas, sendo 71% de tilápias. A perda de posição se deu por diversos motivos, como a falta de investimentos e a dificuldade de escoamento da produção. Nesse momento, o setor está atravessando uma boa fase e, apesar de não ter pretensão de ocupar novamente a liderança, está otimista com o crescimento.
O Estado possui perto de 22,5 mil propriedades que possuem tanques ou viveiros para o desenvolvimento de alevinos, bem como exploram a piscicultura intensiva. A média de produção do Paraná é de 2,2 mil quilos de peixe por hectare/ano. No entanto, existem regiões, como Toledo e Santo Antônio da Platina, onde a produção atinge seis mil quilos por hectare/ano. Já na produção em tanques redes, cujo sistema o Paraná foi pioneiro em implantar na década de 90, a produção varia entre 100 a 150 quilos de peixes por metro cúbico a cada ciclo – são dois ciclos ao ano.
De acordo com o responsável pela área de Piscicultura e Pesca da Emater no Paraná, Luiz Danilo Muehlmann, atualmente 50% da produção é destinada a pesque-pagues, 34% é processada pela indústria, 12% é vendida diretamente nas propriedades e 4% comercializada em feiras de peixe vivo. No entanto, Muehlmann avalia que esse cenário tende a mudar devido aos investimentos que estão sendo feitos pela indústria.
A Cooperativa Agrícola Consolata (Copacol), no oeste do Estado, investiu R$ 15 milhões na construção de uma unidade industrial de peixes na cidade de Nova Aurora. O abate inicial será de 10 toneladas de tilápia ao dia, com previsão de alcançar 50 toneladas diárias em 2012. A Associação de Piscicultores de Tanques Rede do Paraná, junto com parceiros, está construindo em Cornélio Procópio um frigorífico que terá capacidade para processar até 18 mil quilos de peixe por dia.
“O grande canal de escoamento serão as indústrias, que terão condições de garantir preços e agregar valor ao produto”, afirma Muehlmann. Segundo o especialista, outro fator positivo para a piscicultura do Estado envolve as questões ambientais. Em janeiro deste ano, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente estabeleceu normas e procedimentos para regularização ambiental de tanques para produção de peixes de água doce. A nova legislação englobou inclusive os viveiros de terra antigos, instalados em áreas de preservação permanente, cujos produtores estavam impossibilitados de acessar recursos. O desejo do setor é conseguir agora agilizar os pedidos de liberação ambiental de tanques rede junto ao Governo Federal.
Abatedouro incentiva comércio
A dificuldade que muitos cooperados enfrentavam na hora de comercializar o peixe foi o que motivou a Copacol a investir na construção do abatedouro, inaugurado em junho deste ano.
A cooperativa irá utilizar a mesma logística do frango e do suíno para operacionalizar a produção de peixes. O sistema é pioneiro no Brasil por envolver cooperados em ciclo fechado, já que a Copacol irá fornecer a ração, o peixe, a assistência técnica e garantir a compra. O engenheiro de pesca da Copacol, Nestor José Braun, ressalta que nesta primeira fase serão envolvidos 120 produtores, devendo chegar a 400 nos próximos quatro anos.
A remuneração vai variar entre R$ 0,30 a R$ 0,80 por quilo produzido. “O produtor terá ainda garantia de pagamento em cima da conversão alimentar, que envolve a quantidade de ração, quantidade de filé e mortalidade”, explica.
As 10 toneladas de peixe que a Copacol abate por dia estão sendo estocadas para chegar aos pontos, de venda ainda este ano. A meta é atingir também o mercado externo, que só com o comércio de frango já ultrapassa 25 países. (RO)
Vislumbrando oportunidades na crise
“Somos o país com maior quantidade de água do mundo e devemos aproveitar a crise de alimentos para fortalecer o setor.” É o que afirma o presidente da Associação de Piscicultores de Tanques Rede do Paraná, Jefferson Osipi. Segundo ele, o Paraná sempre foi pioneiro no setor, porém, não foi empreendedor para continuar crescendo – daí a perda da liderança adquirida nos anos 90s. No entanto, Osipi avalia que a piscicultura vive um bom momento e é preciso aproveitar a oportunidade para crescer.
É com essa proposta que a associação, junto com outras entidades de classe e governamentais, investe na construção do frigorífico em Cornélio Procópio, norte do Estado. “A idéia é também nos organizarmos através de uma cooperativa”, adianta. Além da polpa, a unidade irá aproveitar integralmente o peixe – pele, ossos, vísceras e escamas – para agregar valor ao produto.
A unidade, que está sendo construída em uma área de dois alqueires, deve entrar
em operação no segundo semestre do ano que vem.
O peixe que chega na mesa do brasileiro ainda é muito caro devido à baixa oferta
do pescado no mercado. Além disso, o hábito alimentar da população para consumo do produto também é modesto: seis quilos ao ano per capita, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 15 quilos por ano. Segundo Osipi, com o fortalecimento do setor, a demanda deve aumentar e o preço, cair, tornando o produto mais acessível. (RO)