Farmácias brigam por espaço em Curitiba

As grandes redes de farmácia estão apostando forte no mercado curitibano. Exemplo disso são as sucessivas inaugurações de lojas, a maioria delas localizada em pontos estratégicos e todas com conceito semelhante: grandes espaços, estacionamento próprio e um mix variado de produtos. Os investimentos são altos: a última aposta da Rede Nissei, por exemplo – uma loja com 600 metros quadrados no bairro Cabral, inaugurada há menos de duas semanas – exigiu investimento da ordem de R$ 1 milhão. A Drogamed, que inaugura mais uma loja na Avenida Iguaçu, no mês que vem, está investindo R$ 400 mil na nova unidade. Diante das cifras, fica a questão: abrir uma farmácia em Curitiba é algo tão lucrativo assim? E mais: a cidade ainda comporta mais estabelecimentos do setor?  

Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado do Paraná (Sindifarma-PR), Edenir Zandoná Júnior, a resposta é ?não? para as duas questões. ?A margem bruta das farmácias em Curitiba é de 27% em média, e o lucro líquido varia entre 2% e 3%, isso se trabalhar muito bem?, afirmou. Segundo Zandoná, o custo operacional de uma farmácia – incluindo taxa de energia elétrica, água e esgoto, salário de funcionários – é alto, o que aumenta o risco de o estabelecimento ?entrar no vermelho?. ?Se não fizer tudo direitinho, a farmácia está fadada a fechar. É um mercado muito ingrato.?

Segundo Zandoná, apesar das sucessivas inaugurações de farmácias – especialmente de grandes redes -, o número de estabelecimentos em Curitiba permanece estável há cerca de seis anos. Isso porque, conforme o presidente do Sindifarma-PR, a cada inauguração de uma unidade de grande rede, quatro ou cinco farmácias próximas, menores, acabam fechando as portas. ?O pessoal tenta sobreviver, mas em menos de um ano troca de endereço ou fecha.?

Em Curitiba, segundo levantamento do Sindifarma-PR, há aproximadamente 800 farmácias, das quais cerca de 250 são de grandes redes. O restante inclui desde farmácias pequenas, familiares, até unidades de redes menores, como a Maxifarma, Farmais e Hiperfarma. ?O mercado continua saturado. Há uma farmácia para cada 2,4 mil habitantes, enquanto o certo (indicado pela Organização Mundial da Saúde – OMS) seria de uma para cada 8 mil habitantes?, apontou Zandoná.

Contrário ao conceito drugstore – grande espaço, dotado de uma loja de conveniências em que se vende tudo, de semijóias a aparelhos celulares -, Zandoná defende a volta da farmácia tradicional e o fim da guerra de preços. ?Farmácia tem que ter aparência de farmácia. Em Curitiba, o mercado está meio distorcido. O sindicato não é contra o desconto, mas sim a maneira como se coloca. Usa-se o desconto de maneira enganosa.?

Em recuperação

Exemplo de que nem as grandes redes estão imunes à crise, a Drogamed – que chegou a acumular R$ 50 milhões de dívidas – está, a passos relativamente rápidos, conseguindo se recuperar. ?Operacionalmente estamos muito bem. Nosso objetivo maior é pagar todas as dívidas entre 12 e 18 meses?, afirmou o diretor-presidente da Drogamed, Hugo Rodriguez, que está à frente das operações da rede desde que adquiriu o seu controle no início do ano. Em menos de seis meses, Rodriguez conseguiu reduzir a dívida em mais de 64% e os custos operacionais foram cortados em 11 pontos percentuais. ?Conseguimos renegociar com os bancos, os fornecedores. Nosso objetivo é estar, em no máximo 18 meses, totalmente recuperados.?

Para reequilibrar as contas, a nova direção decidiu reduzir o tamanho da companhia, sobretudo na parte administrativa. Para Rodriguez, uma série de fatores levou a Drogamed à situação crítica. ?Comprou-se a companhia por um valor muito alto. Além disso, houve a transferência de fundos, mas muito pequena. O resto foi endividamento. Também o plano de expansão da companhia, focado fora de Curitiba, teve um custo muito alto, com financiamento de bancos locais?, explicou.

Mesmo em fase de recuperação, a Drogamed não deixou de expandir: inaugurou quatro unidades desde o início do ano e prevê outras duas até dezembro – uma delas no mês que vem. A previsão para os próximos dois anos é de 20 novas lojas em todo o Paraná, principalmente no interior. No ano passado, a empresa faturou cerca de R$ 180 milhões, e a expectativa é encerrar 2006 com crescimento de 8%.

Sobre o mercado, a concorrência e a guerra de preços, Rodriguez é taxativo: ?Curitiba está saturada, não agüenta trabalhar com quatro ou cinco redes grandes. Hoje ninguém mais tem (ganho de) escala. E a guerra de preços é estúpida. A menos que se venda muito por unidade, 30% de desconto não paga nenhuma conta?, disparou, lembrando que o nível de desconto, que girava entre 12% e 15% em Curitiba em 2004, chegou à média de 28% no ano passado. ?Alguns dos concorrentes não agüentaram e fecharam as portas; caso da Ultramed?, citou. ?Felizmente o mercado nos últimos meses está mais tranqüilo, talvez pelo que aconteceu com a Ultramed.?

Pequenas buscam diferencial

Keiko: assistência farmacêutica.

Se não há como concorrer no preço, as pequenas farmácias – ou farmácias familiares – apostam no bom atendimento para conquistar a clientela. ?A nossa farmácia não tem propaganda, não tem música, nada que induza o cliente a comprar. Em compensação, damos assistência farmacêutica: esclarecemos o cliente sobre como tomar o medicamento, ligamos para os clientes mais antigos para saber como estão passando, temos a ficha de cada um deles aqui.? A declaração é da farmacêutica Keiko Notomi, que mantém há 23 anos, juntamente com o marido Roberto, a Farmácia Notofarma, no Centro Cívico, em Curitiba.

A farmacêutica admite que é difícil acompanhar os preços das grandes redes. ?A concorrência é terrível?, lamentou. Segundo ela, o setor começou ?a ficar ruim? há cerca de oito anos. ?O grande problema é que hoje em dia há farmácias que dão descontos grandes para mercadoria duvidosa, sem qualidade?, acusou. Para driblar a concorrência e sobreviver no mercado, a farmacêutica diz que tenta negociar com os fornecedores para conseguir preços melhores e não mantém grandes estoques no estabelecimento.

Investimento de R$ 100 mil

Thiago: concorrência é desleal.

Há pouco mais de um ano, o farmacêutico e bioquímico Thiago Bonzanini decidiu investir cerca de R$ 100 mil na Farmácia Lótus, localizada na Avenida Manoel Ribas. Mesmo com pouquíssimo tempo no mercado, Bonzanini já conhece o ?lado negro? do setor. ?A concorrência é muito desleal. Há farmácias que param de focar o medicamento e passam a tratá-lo como se fosse uma mercadoria livre. Mas não é por aí. É uma questão de saúde.? Bonzanini diz não entender como algumas redes conseguem oferecer medicamentos com preços tão baixos. ?Há laboratórios alemães, suíços, que não dão desconto, por maior que seja o volume de medicamentos. Para se ter uma idéia, às vezes compensa mais eu comprar um remédio na concorrência e revendê-lo aqui do que comprar diretamente do laboratório?, diz.

Assim como a dona da Farmácia Notofarma, Bonzanini afirma que um dos diferenciais de seu estabelecimento é o atendimento ao cliente. ?A gente se preocupa com o cliente, visando à saúde, não ao lucro?, disse. O pequeno empresário diz que também facilita a forma de pagamento e mantém até uma ?pequena caderneta? com os nomes dos clientes e os valores que estão devendo. Sobre o retorno do investimento, Bonzanini acredita que deve levar entre cinco e sete anos.

Novas redes apostam no Paraná

Já consolidada na região sudeste, a paulista Droga Raia quer agora se firmar no Paraná. Presente em Curitiba desde o final de 2003, a rede promete dobrar a operação na capital até o final deste ano, ampliando de cinco para dez o número de lojas. Para o ano que vem, a expectativa é chegar a 15 unidades. ?A gente quer ser a primeira rede do Brasil. O projeto de expansão faz parte da estratégia em todo o país?, afirmou o vice-presidente de Operação da rede, Fernando Varela. Com 143 filiais – distribuídas por São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná -, a empresa faturou R$ 640 milhões em 2005. A média de crescimento da rede, segundo Varela, é de 15% ao ano.

?Temos um estoque completo de medicamentos e variedade ampla na perfumaria. Nossa preocupação é com a relação e não com a transação?, apontou, acrescentando que as lojas trabalham apenas com medicamentos e itens de saúde e beleza. ?Não é uma drugstore?, esclareceu.

Varela reconhece o grande número de farmácias em Curitiba, mas acredita que a rede tem espaço para se expandir. ?Pelo menos para a marca Droga Raia ainda existe espaço.? Para atrair a clientela, a rede adota política de desconto de até 30% nos medicamentos e conta com o programa Farmácia Popular, com subsídio do governo federal. ?Com o subsídio e o nosso desconto, o medicamento pode ficar até 90% mais barato. Temos uma lucratividade baixa, que é compensada pelo volume.? Para ele, a pior concorrência, porém, não vem de outras redes, mas da informalidade.

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