São Paulo (AE) – O preço da farinha de trigo deve aumentar de 30% a 40%, afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Francisco Samuel Hosken. Motivo: um acordo firmado, na Argentina, entre o governo e o setor privado, que restringe as exportações e a alta nos preços internacionais do trigo.

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Além de controlar as exportações do produto, o governo argentino aumentou o valor de referência do trigo, de US$ 153 para US$ 182 a tonelada. Este valor é usado para calcular o recolhimento do imposto de 20% no registro da exportação. ?Com isso, o imposto de 20% passa a ser, na prática, de 25%?, calcula Hosken, que completa: ?Nós teremos de repassar esse custo para o preço da farinha, pois a indústria não especula com trigo e não faz estoques. O risco cambial é muito alto.?

Importação

Durante reunião realizada na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na terça-feira (23), os moinhos decidiram formar um consórcio para comprar trigo de fora do Mercosul.

O presidente da Abitrigo reconhece que os preços do trigo americano e canadense – cuja qualidade é similar ou até superior ao argentino – não são competitivos com os do mercado vizinho. Mas, para ele, a possibilidade de importação de outros países dará margem para negociações. O trigo argentino desembarcado em São Paulo custa US$ 194 a tonelada. O canadense custa de US$ 251 a US$ 298 por tonelada (dependendo da classificação); e o americano, US$ 304.

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Segundo Hosken, o trigo canadense é hoje 29% mais caro que o argentino, mas custaria ?apenas? 14% mais se o governo atendesse o pedido da indústria de retirada da Tarifa Externa Comum (TEC), de 10% sobre as importadoras de trigo de fora do Mercosul, e de suspensão temporária do adicional de 25% de Marinha Mercante no frete para estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Como o preço do trigo americano é 39% maior nas condições atuais a Abitrigo imagina que o Canadá seria o provável substituto do mercado argentino, além de Polônia, Rússia e Ucrânia. Sobre os países do Leste Europeu, no entanto, a entidade diz não ter avaliado o impacto financeiro dessa operação.

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Em 2002, uma alta significativa de preços na Argentina fez o Brasil comprar trigo do Leste Europeu. A substituição das importações teve efeito quase imediato: a Argentina recuou na alta e voltou a atender o Brasil em quase 95% das importações de trigo do País.

Concorrência desleal

A indústria moageira acusa ainda os argentinos de adicionar sal à farinha de trigo para que esta seja considerada pré-mistura. ?Para nós, mistura e farinha de trigo da Argentina é uma coisa só. A classificação como pré-mistura é apenas um subterfúgio para gozar do subsídio de 15%?, diz Hosken. Segundo ele, ao inibir as exportações de trigo em grão, o governo argentino fez cair os preços internos do cereal em até 20 pesos num dia, o que deixou ?a farinha deles ainda mais barata?.

A Abitrigo reclama da concorrência desleal com a indústria argentina, pois a tonelada de pré-mistura chega a São Paulo a R$ 400/410 a tonelada, mesmo preço do trigo em grão ainda a processar. ?Muitos moinhos já estão comprando farinha da Argentina em vez de grão, e corremos o risco de virar distribuidores de farinha argentina?, diz Hosken.

A Abitrigo reivindica do governo a adoção de uma tarifa de importação de 10,5% sobre a farinha argentina e de 25,5% sobre a pré-mistura. ?Isso amenizaria o aumento do preço da farinha no mercado interno?, diz Hosken. Mesmo que o governo atenda os pleitos do setor, a farinha de trigo deve subir 17%.