De cada 100 famílias curitibanas, 88 estão endividadas. É o que revela um estudo divulgado nesta terça-feira (21), pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo (Fecomércio-SP). Tal proporção colocou Curitiba em primeiro lugar no ranking das taxas de endividamento (88%), que mede o percentual de famílias com dívidas entre todas as capitais do País nos cinco primeiros meses de 2011. A média nacional ficou em 64%.

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No mesmo período do ano passado, o índice de Curitiba era de 64%, sendo apenas o 19.º do ranking nacional. Já Florianópolis, que é a 2.ª no ranking (86%), subiu 14 posições em relação a 2010 (66%). Em valores, as famílias de Curitiba também aumentaram a parcela de comprometimento da renda com as dívidas adquiridas, passando de 26% para 27%. Este 1%, em números absolutos, equivale a um valor de dívida por família de R$ 1.608 contra um valor de R$ 1.409 no mesmo período de 2010.

Também segundo o estudo, o valor total das dívidas das famílias na capital, passou de cerca de R$ 515 milhões em 2010, para R$ 820 milhões neste ano. O total mensal estimado da dívida das famílias nas capitais é de R$ 13,5 bilhões, o que corresponde, em termos aproximados, ao orçamento anual do Bolsa Família. Considerando uma taxa média de 43% de juros nos empréstimos, pode-se afirmar que cerca de R$ 5,8 bilhões dessa dívida corresponde exclusivamente ao custo dos empréstimos.

De acordo com o economista da entidade, Altamiro Carvalho, embora de forma geral as famílias brasileiras tenham um perfil conservador em termos de endividamento, algumas capitais apresentaram um grau de endividamento muito acima da média.

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“Temos alguns sinais de alerta. Em Curitiba, por exemplo, o aumento real da dívida das famílias, de janeiro a maio do ano passado para o mesmo período deste ano, foi de 59%. Em Natal, o aumento foi de 39%, contra uma média de 24% entre todas as capitais. Em Porto Alegre, a dívida média mensal das famílias foi de R$ 2.145, contra uma média nacional de R$ 1.527”, afirmou. “Pode ser algo pontual, passageiro, mas também pode ser algo crônico.”

Na avaliação de Carvalho, nessas três capitais, qualquer problema que ocorra em termos de renda e emprego pode ser preocupante. “Mas, de forma geral, as famílias brasileiras mostram, em média, um cuidado na administração de crédito, tomando as medidas necessárias para manter o orçamento, o que afasta as teorias catastrofistas de um subprime da inadimplência”, afirmou. “Isso só ocorreria se houvesse algo muito grave que viesse a comprometer a renda e o emprego, o que não é o caso até o momento. Se esses indicadores ficarem estáveis e a taxa de desemprego continuar baixa, a possibilidade de ocorrer alguma coisa grave com a inadimplência é pequena.”

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Outros dados

Apenas em São Paulo capital, o volume de divida alcança R$ 2,8 bilhões mensais, o que corresponde ao valor estimado para construção do novo estádio do Corinthians somado com o custo total previsto para reforma do Maracanã para Copa do Mundo de 2014. A quantidade de famílias endividadas de São Paulo é maior que a soma de 15 capitais (São Luiz, Goiânia, Natal, João Pessoa, Teresina, Campo Grande, Aracaju, Cuiabá, Florianópolis, Porto Velho, Rio Branco, Macapá, Vitoria, Boa Vista e Palmas).

Já Manaus é a capital com o menor comprometimento de renda com dívidas (19%). No extremo oposto, Natal tem em média 39% da renda de seus habitantes com dívidas. As cinco capitais mais endividadas em valores absolutos (São Paulo, Rio, Salvador, BH e Curitiba), juntas, representam mais da metade (53%) do numero de famílias endividadas do total das capitais. Sozinha, São Paulo representa 20% desse total, ou quase 1,8 milhão de famílias.

Estudo

O estudo da Fecomércio-SP avaliou o impacto da evolução das operações de crédito para pessoas físicas sobre o orçamento das famílias desde janeiro de 2010, nos seus principais aspectos. O sistemático aumento na oferta de crédito nos últimos anos, aliado ao crescimento real da renda, principalmente nas classes de menor poder aquisitivo, torna, segundo a entidade, essa avaliação essencial para se obter a realidade da evolução do nível de endividamento  e solvência das famílias.

A proposta do trabalho foi obter os principais indicadores mensais de taxa endividamento, número de famílias com dívidas, seus valores totais e médios e nível de comprometimento da renda com empréstimos, em todas as capitais, nos últimos 17 meses, desde janeiro de 2010.

Para a realização do levantamento foram usados os dados primários do INPC, contagem populacional, Pesquisa mensal de emprego e POF, todas do IBGE e as taxas mensais de endividamento e comprometimento da renda constantes da PEIC da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Conclusões

De acordo com a Fecomércio-SP, o que se pode afirmar é que houve confirmação clara que houve grande disseminação do crédito para as famílias entre o ano passado e este ano, aspecto que vai ao encontro do crescimento robusto nas vendas do comércio em 2010 e a sua manutenção no dois primeiros meses de 2011.

Além disso, a entidade destaca que as chamadas “medidas macro-prudenciais” do Banco Central, elevando juros e contendo prazos dos empréstimos teve grande responsabilidade pelo aumento constatado da dívida das famílias nesses cinco meses iniciais de 2011, pois as vendas do comércio a partir de março apontam para uma forte desaceleração do consumo.

O nível de comprometimento médio da renda mensal das famílias brasileiras com dívidas permaneceu em 29%, o que pode ser considerado um índice saudável. Isso torna muito baixo o risco da ocorrência no País de uma crise de crédito bancário, pois além desse nível baixo de comprometimento da renda, a sofisticação do sistema de proteção adotada pelos bancos na concessão de crédito e a elevada taxa de juros cobrada faz com que o sistema financeiro se torne praticamente imune a uma eventual elevação da inadimplência.

Juros altos

Muito embora o levantamento tenha sido realizado tomando como referência apenas as capitais dos estados brasileiros, o que se apurou mostra o grande impacto que a taxa de juros considerada a maior do mundo tem sobre toda a população de consumidores do Brasil.

A taxa de juros média, em dezembro do ano passado, foi de 40,6% ao ano, para empréstimos destinados às pessoas físicas. Em abril último, segundo dados oficiais do Banco Central, a taxa atingiu 46,8% ao ano, um aumento de 6,2 pontos percentuais em apenas quatro meses.

Com isso, segundo estimativas da Fecomercio-SP, as famílias brasileiras pagaram, até abril de 2011, R$ 55,1 bilhões de juros. Caso não houvesse esse aumento da taxa de juros, esse valor seria de R$ 50,4 bilhões, ou seja, foram retirados do consumo das famílias R$ 4,5 bilhões, que foram utilizados para pagar empréstimos em todo o Brasil.