A cada mês que passa, as despesas fixas da família Lima com luz, água, telefone e gasolina só aumentam. Com uma bebê de três meses e mais dois filhos, uma de 16 anos e outro de 8 anos, Angela de Cássia Dias Lima e o marido Luciano Lima viram, nos últimos seis meses, a conta de luz saltar de R$ 120 para R$ 189.

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As despesas com água e esgoto também subiram: passaram de R$ 120 para R$ 132. E o carro que o casal usa para passear aos finais de semana – ir ao shopping, comer fora, por exemplo – fica a maior parte do tempo estacionado na garagem porque falta gasolina. “A gente rebola para pagar as contas”, desabafa Angela, que é fiscal de transporte escolar.

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Ela e o marido, que trabalha como autônomo depois de ter perdido o emprego de garçom no início do ano, não têm para onde correr e são obrigados, como a maioria dos brasileiros, a aceitar os aumentos das tarifas. Uma das saídas para conseguir “encaixar” esse aumento de despesa na renda familiar, que gira em torno de R$ 2.200 por mês, foi reduzir o consumo de outros bens e serviços que não são “obrigatórios”.

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A família, por exemplo, deixou de comer fora e está gastando menos no supermercado. Antes da disparada das tarifas, Angela conta que comprava duas caixas de leite por mês. Hoje leva para casa uma caixa.

Ela e o marido passaram a beber chá para deixar o leite para as crianças. Bolacha recheada também entrou na lista de corte: antes a família comprava cerca de 20 pacotes por mês e hoje são apenas três. “Com essas e outras reduções consigo gastar cerca de R$ 120 a menos por mês no supermercado”, calcula Angela.

A freada no consumo de alimentos, bebidas, artigos de higiene e limpeza, cujos preços estão bem comportados, de acordo com os índices de inflação, foi captada por institutos de pesquisas especializados.

No segundo trimestre deste ano, a Kantar Worldpanel que visita semanalmente 11,3 mil domicílios no País para tirar uma radiografia do consumo de uma cesta de 108 categorias de produtos, entre alimentos bebidas e artigos de higiene e limpeza, registrou uma retração 5,5% nos volumes comprados sobre o primeiro trimestre deste ano. A cada ida no supermercado, o brasileiro levou para casa uma quantidade quase 10% menor de produtos.

“Nos últimos três anos não tínhamos registrado uma queda tão forte”, diz Giovanna Fischer, diretora do instituto e responsável pela pesquisa domiciliar.

Natal

“A situação do comércio azedou também por causa do aumento das tarifas”, afirma Fabio Bentes, economista-chefe da Confederação do Comércio (CNC). Ele lembra que até abril, as vendas do varejo cresciam na faixa de 7% ante 2017 e depois da greve dos caminhoneiros esse ritmo caiu 50%.

Para o economista, o crescimento de vendas deve ficar nessa toada. Além da incerteza política e do desemprego elevado, a alta das tarifas nos gastos vai frear as compras. Tanto é ele prevê que as vendas de Natal cresçam 2,3%, uma taxa menor do que a de 3,9% em 2017. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.