Prédios em construção ou apartamentos para alugar são raros. |
Encontrar um bom imóvel residencial para locação está mais difícil. Conforme levantamento da Rede Avançada de Locação, que reúne as administradoras do setor em 13 capitais brasileiras, o volume de imóveis residenciais colocados no mercado para locação sofreu redução média de 30% em todo o País, comparando-se o primeiro semestre deste ano com igual período de 2004. Em Curitiba, segundo o levantamento, a queda chega a 37%, enquanto em Belo Horizonte, a 50%.
?Isso nos preocupa muito. Já começamos a sentir carência de imóveis em algumas áreas e especialmente na faixa de R$ 300 a R$ 600?, apontou Luiz Valdir Nardelli, diretor da imobiliária Futurama -representante da Rede Avançada de Locação em Curitiba. ?Quem procura imóvel nessa faixa de preço já está tendo problemas em encontrar. Ainda acha, mas com dificuldades?, disse, salientando que os imóveis em melhor estado são os que saem primeiro. ?Há muita oferta de imóveis, mas em estado nem sempre esperado pelo futuro inquilino.? Entre as áreas em que há maior dificuldade em encontrar imóveis para locação em Curitiba, Nardelli citou o Centro, Bigorrilho e Água Verde.
Segundo ele, há três fatores fundamentais que levaram à queda na oferta de imóveis: a excessiva carga tributária sobre o aluguel, a instabilidade jurídica que rege os contratos e a morosidade da Justiça nas ações de cobrança e despejo. ?Quando há um inquilino que não paga o aluguel, demora muito até conseguir tirá-lo: de seis a oito meses?, apontou Nardelli. Apesar disso, segundo ele, os casos de despejo ainda são poucos e respondem por cerca de 2% do total de locações. ?O problema é que se abre uma cicatriz. A pessoa fica desanimada e não acredita mais no investimento.?
Outro fator que tem contribuído para a redução da oferta de imóveis é a instabilidade jurídica. ?Toda hora muda a lei, não há uma estabilidade jurídica que possa incentivar a colocação de um imóvel para locação?, criticou. ?Além disso, há leis que dizem uma coisa e a decisão judicial diz outra.? De acordo com Nardelli, diante de tantas dificuldades, muitos resolveram colocar os imóveis à venda. Para ele, a situação só vai mudar ?quando houver garantia jurídica e seriedade da Justiça?.
Falta incentivo
De acordo com o vice-presidente de locação e administração do Secovi-PR (Sindicato da Habitação e Condomínios do Paraná), Luiz Alfredo Dornfeld, o setor imobiliário já vem sentindo a redução de imóveis para locação nos últimos dois anos. ?Vem reduzindo em percentuais tímidos, mas no somatório chega de 30% a 37%, dependendo do tipo de imóvel?, apontou Dornfeld.
Entre os motivos, o vice-presidente cita o encolhimento da construção civil nos últimos dez anos – ?que vem colaborando para o desabastecimento do mercado de locações? -, a política da alta de juros, a tributação e o papel do Judiciário nas ações de despejo. ?Tudo isso desincentivou a aquisição de novos imóveis como investimento e aqueles que iriam comprar imóveis novos e deixar os antigos para locação estão deixando de comprar?, disse.
Segundo Dornfeld, imóveis que antes demoravam de 90 a 120 dias para ser locados, agora levam apenas 60 dias. ?Os imóveis com aluguel de até R$ 650,00 são os primeiros a faltar?, apontou. A redução de imóveis para locação, de acordo com o vice-presidente do Secovi-PR, já começam a mexer inclusive com os preços.
?Até 2004, na hora de renovar o contrato, o inquilino pleiteava a redução do aluguel e o locador concedia, com medo de o imóvel ficar desocupado. Hoje, as negociações para baixo já não acontecem mais?, comentou. Dornfeld alertou, no entanto, que essa situação não é positiva. ?Para quem tem imóvel desocupado, pode parecer uma coisa boa, mas no médio prazo não é. Se não houver maior oferta, o imóvel pode não vagar mais e as duas pontas acabam se amarrando.?
Em Curitiba, segundo Dornfeld, há cerca de 6 mil imóveis para locação, tanto residenciais como comerciais. A redução na oferta de imóveis residenciais, afirmou Dornfeld, aparece com mais força. Ele salientou, porém, que gostaria que houvesse uma oferta 20% a 30% maior de estoque também de imóveis comerciais.