Falta moeda para troco no comércio

Foto: Aliocha Maurício

A importância da moeda está sendo esquecida pelo consumidor.

São Paulo – Já imaginou fazer compras no mercado e, em vez de moedas, receber cigarros como troco? Foi o que aconteceu com o cearense Paulo Medeiros Filho, de 28 anos. E para piorar: ?Não fumo, aliás, tenho horror a cigarro?, conta o bancário de Fortaleza. Na falta de moedas no caixa, o jeito foi aceitar o inusitado troco, que acabou indo para o lixo.

A escassez de moedas em circulação provoca problemas à economia no dia-a-dia, e o principal deles é a falta de troco no comércio. ?Quem mais sofre com isto é a população de baixa renda, quando vai pagar preços fracionados, como a tarifa do ônibus?, diz o chefe do Departamento do Meio Circulante do Banco Central do Brasil (BC), Cláudio Lagoeiro.

A solução pode estar ao alcance do bolso dos brasileiros. Para a especialista em educação financeira Cássia D?Aquino todo consumidor deve ajudar na tarefa. ?As pessoas não percebem que a causa da falta de troco é a retenção de moedas em casa.?

Quanto menos moedas circulam, maior precisa ser a encomenda de novas peças pelo BC – responsável pela emissão de moedas e cédulas de real. E fazer dinheiro custa caro. Em 2006, o órgão gastou R$ 190 milhões. ?O custo do dinheiro mal utilizado volta para a gente, contribuinte, portanto é uma displicência sem motivos?, diz Cássia. Lagoeiro concorda: ?Se mudarmos o comportamento, podemos ter uma economia real no futuro?.

Para estimular o brasileiro a colocar os trocados para circular, cuidar do manuseio de notas e ficar atento ao dinheiro falso, o BC lançou na última terça-feira a campanha nacional ?Nosso Dinheiro?. Por meio de cartazes, folderes e propagandas na TV, rádio, revistas e internet, o órgão vai dar dicas e explicar por que é importante preservar o dinheiro.

Hoje existem 12 bilhões de moedas, uma média de 64 para cada brasileiro, mas só metade delas está em circulação. A peça de 1 centavo por exemplo já é raridade no comércio, apesar de terem sido fabricadas 3 bilhões nos últimos 12 anos, o que significa 25% da produção total de moedas. ?Ela é a que mais se perde e se esquece por aí?, afirma Lagoeiro. Em outubro, o BC parou de produzir as moedas desse valor. ?É uma suspensão provisória, pois concluímos que já tem moeda suficiente. Agora, precisa circular.?

Vida útil

A falta de cuidado no manuseio de cédulas de real faz com que 80% das novas notas sejam produzidas exclusivamente para substituir outras rasgadas, riscadas e amassadas. Ano passado, o gasto foi de R$ 136 milhões. Para o cidadão, nota danificada aumenta o risco de receber dinheiro falso, pois a cédula fica descaracteriza.

No Brasil, as notas de R$ 2 e R$ 5 são as menos duráveis, com vida útil de 12 a 14 meses. Já a cédula de R$ 10, a segunda que mais circula, depois da nota de R$ 1, dura 1 ano e meio. ?Quem suja, rasga ou escreve no dinheiro acaba inutilizando a nota, que deveria circular por muito mais tempo?, destaca Lagoeiro.

Como identificar uma nota falsa

Para não levar gato por lebre na hora de lidar com dinheiro, o segredo é prestar atenção a características de textura e aparência das cédulas. No caso das moedas, a falsificação é menos freqüente, mas convém tomar cuidado com o desenho, peso e bordas dos metais. Além disso, não confie no teste do imã. Carlos Lagoeiro, do BC, alerta: ?Moedas são feitas de vários materiais. Mesmo as verdadeiras podem não ser atraídas por imã?.

No ano passado, foram apreendidas no Brasil cerca de 570 mil cédulas falsas, com valor total de mais de R$ 22 milhões. As notas de R$ 50 são as mais visadas pelos falsários e representam 70% das apreensões. Em seguida, vêm as cédulas de R$ 10, com 20%

As notas de real têm hoje até 13 mecanismos de segurança para dificultar a falsificação. Contra a luz, é possível observar a marca d?água – desenho sombreado de uma mulher (símbolo da República) ou da bandeira do Brasil – e o registro coincidente – duas figuras, uma na frente e outra no verso, que se completam.

As características do papel-moeda também contribuem para identificar a nota verdadeira, como a aspereza e a presença de fibras coloridas, com fios verdes, vermelhos e azuis. As notas de R$ 10 (exceto a de plástico), R$ 20, R$ 50 e R$ 100 são atravessadas de cima a baixo por um fio de cor escura.

Ao se colocar a nota na altura dos olhos, em um lugar com muita luz dá para ver no canto inferior esquerdo as letras BC em um quadrado. Os números que mostram o valor da cédula são preenchidos com microimpressões, visíveis com lupa, das mesmas iniciais.

Com a ponta do dedo ou a unha é possível sentir que a tinta é mais grossa na região da testa da mulher desenhada. Há alto-relevo também no canto inferior esquerdo, uma marca tátil para auxiliar o manuseio do dinheiro por deficientes físicos.

Se a pessoas suspeitar que recebeu uma nota falsa, não deve tentar repassar a cédula. Quem é pego usando dinheiro falso é considerado autor de crime de falsificação. O certo é procurar uma agência bancária, de preferência do Banco do Brasil, relatar o caso e pedir que seja enviado para o Banco Central. A agência fornece um recibo comprovando a entrega da cédula, que segue para exame no BC. O resultado é enviado por correspondência para a casa da pessoa, mas o dinheiro só é devolvido se for verdadeiro.

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