O ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, admitiu ontem que a falta de consenso político entre governo, Congresso e províncias é o principal empecilho para o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Preocupado com a situação do país, o presidente Eduardo Duhalde convocou todos os governadores e um grupo de congressistas para uma maratona de reuniões, a partir de amanhã, na tentativa de evitar o fracasso da negociação. Além disso, segundo uma fonte da equipe econômica, o FMI quer uma data definitiva para as eleições. Estas, marcadas para março, ainda podem ser adiadas.

Buenos Aires e Washington (AG) – A ausência de um entendimento político é a questão mais complicada neste momento. O resultado desse encontro é crucial para o Fundo – disse Lavagna, explicando que o objetivo é elaborar um documento com uma série de compromissos em relação a metas de superávit fiscal e legislação.

– Esta não é uma negociação entre o Fundo e o Executivo. É uma negociação com o país – disse o ministro, que desmentiu o calote no Banco Mundial (Bird):

– Existe um processo que dura 180 dias, até que o calote seja decretado. Nós simplesmente adiamos o pagamento, até que seja assinado o acordo com o Fundo.

Para o FMI, o impasse nas negociações com a Argentina se deve à falta de confiança da diretoria executiva do organismo no governo. Ainda se teme que o país não cumpra um programa econômico considerado adequado pelo Fundo.

– As questões técnicas têm solução. O que complica é a pouca disposição demonstrada pela classe política argentina em se comprometer com um plano de reconstrução da economia – disse um representante do FMI.

O próprio diretor-gerente do Fundo, Horst Köhler, deixou claro, em conversa telefônica com Duhalde, há dez dias, que a falta de consenso político é o principal problema. O diálogo foi testemunhado por assessores diretos de ambos. Köhler disse que o FMI estava disposto a fechar logo um acordo, mas precisava de um compromisso formal:

– O elemento essencial para um acordo é um consenso político.

Duhalde foi irônico:

– É difícil obter um consenso político quando não sabemos exatamente sobre o que se está falando – disse ele, referindo-se à falta de programa econômico claro.

Duhalde volta à Argentina amanhã, depois de participar de uma reunião de presidentes ibero-americanos na República Dominicana. No encontro, o presidente Fernando Henrique disse que, até agora, a Argentina não decretou moratória:

– A Argentina não quer deixar de pagar. Quer encontrar um meio para resolver a questão e o FMI não está facilitando – disse, acrescentando que os argentinos não são os únicos responsáveis pela crise:

– O FMI não tem dado as condições de retomada.

O mercado reagiu com tranqüilidade em relação ao não-pagamento ao Bird. A Bolsa de Buenos Aires subiu 2,26% e o dólar fechou em 3,51 pesos (+0,6%). Para o economista Noberto Sosa, da Raymond James, a decisão do governo “mostra que o país é uma república bananeira”. Mas Leonardo Chialva, da Delphos Investment, disse que o governo não podia sacrificar 10% das reservas sem o acordo com o FMI.

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