O efeito provocado pela falta de chuvas na geração das hidrelétricas deve provocar uma reviravolta nos balanços do setor de Energia ao longo do segundo semestre. As geradoras, que despontaram na primeira metade do ano em função dos preços mais altos de energia e da estratégia de alocação de garantias físicas adotada, terão um cenário menos favorável em função do esperado déficit de geração hídrica. As distribuidoras, por outro lado, foram socorridas pelo governo federal no primeiro semestre e agora devem ser favorecidas com a contabilização de empréstimo bancário de R$ 6,6 bilhões aprovado neste mês.

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Entre executivos do setor, é praticamente consenso que o déficit de geração hídrica do País, conhecido pela sigla GSF, ficará em aproximadamente 10% no segundo semestre. Esse cenário, mais adverso do que o número de aproximadamente 6% registrado até junho, obrigará as geradoras a recorrerem à energia no mercado de curto prazo, lastreada pelo preço de liquidação das diferenças (PLD). No primeiro semestre, esse efeito foi compensado pela estratégia de sazonalização de alocação de garantias físicas e pela disponibilidade de energia para vender no mercado de curto prazo, assim como feito, por exemplo, por Cesp, AES Tietê e EDP Energias do Brasil.

No segundo semestre, porém, as empresas que alocaram maior parte da garantia física até junho enfrentarão um cenário menos favorável, a menos que tenham travado posição de forma a evitar perdas futuras, caso da CPFL. “Fizemos uma sazonalização de contatos muito assertiva, com posição já travada para o segundo semestre e ganho no ano”, afirmou a presidente da CPFL Geração, Karin Luchesi, em teleconferência com analistas e investidores.

O terceiro trimestre, em particular, deve ser caracterizado por um déficit hídrico na casa de 12% a 13%, de acordo com projeções do analista Marcos Severine, do JPMorgan, o que reduzirá a oferta de energia para o mercado livre e, em alguns casos, levará as geradoras a maiores desembolsos com a compra de energia para revenda. “O PLD continuará em patamares elevados, o que resultará em um impacto expressivo para os geradores”, prevê Severine.

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Como o resultado das geradoras refletiu a estratégia de sazonalização adotada no primeiro semestre, aquelas que apresentaram números mais fracos tendem a ser beneficiadas no segundo semestre. É o caso, por exemplo, da Tractebel.

“Tivemos efeito mais de custo, porque tínhamos estratégia mais short no primeiro semestre e mais long no segundo semestre”, destacou o diretor Financeiro e Relações com Investidores da geradora, Eduardo Sattamini durante encontro com analistas e investidores realizado no mês passado. “Para o segundo semestre, estaremos muito mais alocados e não precisaremos comprar no mercado. Estaremos vendendo”, completou.

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A menor alocação de garantias físicas no primeiro semestre provocou redução de 51,5% no lucro líquido da Tractebel na comparação anualizada, a um total de R$ 363 milhões. “É a primeira vez que venho apresentar um resultado tão baixo”, destacou Sattamini no mesmo encontro.

A Cesp, por outro lado, viu o lucro disparar 121,1% no semestre e atingir R$ 1,334 bilhão. Com mais oferta de energia disponível para vender no mercado de curto prazo, a Cesp ampliou a receita com vendas nesse segmento em 77,5%, a um total de R$ 317,6 milhões. A receita operacional líquida cresceu 44% na mesma base comparativa, para R$ 3 bilhões.

“A maior parte das empresas colocou energia no primeiro semestre. Agora, se o déficit for maior do que o esperado (no segundo semestre), haverá rebaixamento da garantia física e as empresas precisarão comprar”, pondera o analista da Ativa Corretora, Lucas Martins.

Graças principalmente aos resultados das geradoras, além dos números da Eletrobras – impulsionados pela provisão de perdas e de contratos onerosos no primeiro trimestre -, o lucro consolidado das empresas do setor de Energia atingiu R$ 6,1 bilhões no primeiro semestre deste ano, expansão de 34,5% em relação ao mesmo período do ano passado.

O levantamento foi elaborado pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, com base em dados da Economatica e levou em consideração os números das seguintes empresas: AES Tietê, AES Eletropaulo, Celesc, Cemig, Cesp, Copel, Cteep, CPFL Energia, CPFL Renováveis, Eletrobras, EDP Energias do Brasil, Eneva, Equatorial, Light, Taesa e Tractebel.

Distribuição

O cenário menos favorável entre as geradoras contrasta com a previsão mais favorável às distribuidoras entre julho e dezembro. O balanço das empresas desse segmento foi particularmente impactado no segundo trimestre, quando registraram salto nas despesas com a compra de energia de curto prazo, sem a contrapartida do socorro bilionário estruturado pelo governo federal.

O aporte de R$ 6,6 bilhões, necessário para que elas honrassem compromissos relativos aos meses de maio e junho, foi oficializado apenas em agosto, após o fechamento do trimestre. No dia 11 de agosto, quatro dias antes do fim da temporada de balanços, foi acertado que as distribuidoras poderiam incorporar a seus balanços o efeito do empréstimo na conta-ACR, porém o curto espaço de tempo inviabilizou o procedimento. O resultado foi a onda de prejuízos nas operações de distribuição de grupos integrados, casos de Eletrobras, Copel e Cemig, e também na AES Eletropaulo.

No terceiro trimestre, por sua vez, as distribuidoras devem contabilizar o empréstimo bilionário, com efeito redutor nos custos com compra de energia, e ainda registrar expansão da receita em função de aumentos tarifários aprovados nos últimos meses pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).