O presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, falou pela primeira vez nessa quarta-feira, 21, sobre o escândalo do uso ilícito de dados de 50 milhões de usuários da rede social, rompendo um silêncio de quatro dias desde que as primeiras informações sobre o caso vieram à tona. Por meio de uma postagem em seu perfil na rede social, o executivo confirmou que “dezenas de milhões” de dados de usuários foram usados de maneira ilícita pelo pesquisador Aleksandr Kogan e pela empresa Cambridge Analytica.

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“Nós temos a responsabilidade de proteger seus dados e, se não fizermos isso, não merecemos servir você”, afirmou Zuckerberg. “Eu tenho trabalhado para ter certeza de que isso não acontecerá de novo.”

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O texto também evidencia que o Facebook soube das ações de Kogan e da Cambridge Analytica em 2015. Na ocasião, a empresa baniu o pesquisador da rede social e exigiu garantias de que a Cambridge Analytica havia excluído os dados. Zuckerberg afirmou que só soube que a consultoria ainda mantinha os dados por meio das reportagens publicadas no último sábado. O executivo não esclareceu por que não informou os usuários sobre o problema em 2015.

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Apesar de reconhecer que a forma como o Facebook foi construído foi o que permitiu que as empresas obtivessem os dados, Zuckerberg não pediu desculpas aos 2,13 bilhão de usuários do site. Ele usou a postagem para destacar as ações que a empresa já havia tomado e para sinalizar o que vem pela frente.

Segundo Zuckerberg, o Facebook fez mudanças em 2014 para garantir que aplicativos de terceiros não tivessem mais acesso a dados de amigos de quem aceitou se conectar a um quiz como o de Kogan. Isso limita a quantidade de dados compartilhados: no caso de Kogan, 300 mil pessoas usaram o serviço, mas por meio deles o desenvolvedor conseguiu dados de 50 milhões de usuários.

Auditoria

Uma das primeiras medidas do Facebook a partir de agora será investigar desenvolvedores que acessaram um grande volume de dados pessoais antes das mudanças de 2014. Os aplicativos suspeitos passarão por auditorias. “Vamos banir qualquer desenvolvedor que não concorde”, disse.

Agora, os desenvolvedores só terão acesso a nome, foto de perfil e endereço de e-mail dos usuários – hoje, são compartilhados todos dos dados do perfil público, a lista de amigos e o e-mail. O executivo diz que vai revogar o acesso dos apps, caso não sejam utilizados por três meses, e facilitar o acesso à ferramenta que permite bloqueá-los.

Fogo

Para os especialistas ouvidos pelo Estado, as medidas mostram que o Facebook está tentando controlar o “incêndio” dos últimos dias. “Não é nem de longe suficiente, mas eles estão tentando impedir que usuários deletem a rede social, o que poderia significar uma perda massiva de receita”, diz Rafael Zanatta, pesquisador do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Para Carlos Affonso de Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio), as medidas não resolvem o problema totalmente. “Não sabemos quantos outros apps podem ter descumprido as regras do Facebook.”

Para Zanatta, a proposta de autorregulação da empresa não será aceita pelos governos. “É impossível que os reguladores se contentem com isso”, diz. “Eles devem colocar agentes públicos e peritos na empresa para investigar o que aconteceu.”

Segundo Bruno Bioni, pesquisador da Rede Latino-Americana de Estudos em Vigilância, Tecnologia e Sociedade (Lavits), a solução é mais complexa. “O problema do Facebook está em seu modelo de negócios, baseado no uso de dados e no impulsionamento de produtos e, agora, de políticos. Precisamos nos perguntar se isso é saudável para a democracia.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.