Nos fundos da sede principal da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), em São Paulo, “esconde-se” uma pequena fábrica que é uma das principais fornecedoras de próteses e órteses para deficientes físicos do Brasil. Além dessa, a entidade mantém cinco unidades produtivas pelo País. A venda de próteses, tanto ao Sistema Único de Saúde (SUS) quanto para o mercado particular, é um dos negócios que a AACD criou para manter seu trabalho filantrópico.

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Quase 70% do orçamento anual de R$ 230 milhões da entidade vêm de negócios como o hospital da AACD, o centro de reabilitação e a oficina de próteses – o restante está dividido entre doações particulares e o evento Teleton, realizado anualmente pelo SBT.

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A produção de próteses e órteses pela AACD começou em 1962. A oficina até hoje funciona de forma artesanal, já que cada peça é única e feita a partir de um molde específico para o paciente. Os moldes são feitos em computadores equipados com scanners para garantir que os equipamentos tenham um encaixe perfeito.

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Além da oficina paulistana, que funciona desde 1978 na sede da associação, na região do Ibirapuera, em São Paulo, há outras cinco fábricas pelo País, em Porto Alegre, Recife, Osasco (SP), Uberlândia (MG) e Nova Iguaçu (RJ). As seis oficinas têm 155 funcionários, dos quais 72 atuam na unidade central. A produção anual é de 60 mil equipamentos, entre próteses (peças que substituem membros) e órteses (que ajudam a ampliar a função de pernas e braços). Trata-se de um dos principais negócios do ramo no Brasil, de acordo com a AACD.

Embora faça parte da estrutura de uma entidade filantrópica, a fábrica é administrada como um negócio que visa ao lucro, explica o gerente Rino Caterina, que comanda a unidade há cerca de 12 anos, mas já passou por outros segmentos, incluindo o de autopeças. Ele explica que o trabalho de gestão de materiais, de recursos humanos e de controle de custos segue os padrões de qualquer outra empresa. “Nosso objetivo é gerar recursos para ajudar a custear a AACD”, diz Rino.

Visibilidade

A entidade espera que a visibilidade que a Paralimpíada traz para a questão da deficiência possa ajudar nas vendas da oficina de próteses, que há anos vem apresentando resultados apertados. A principal fonte de renda da oficina de próteses ainda é a parceria com o SUS, mas o superintendente da AACD, Valdesir Galvan, diz que é necessário aumentar as vendas para usuários privados. “Temos condições de atender a pessoas que têm condições de pagar por uma prótese de qualidade”, diz o superintendente.

Ele lembra, no entanto, que a entidade se concentra em equipamentos para as pessoas usarem em seu dia a dia, feitos principalmente de resina plástica e metal. As próteses usadas pelos atletas paralímpicos geralmente são feitas por companhias multinacionais. “Fazemos o básico, mas com boa qualidade”, diz Galvan.

Embora a parceria com a rede pública traga volume de vendas, o executivo diz que a defasagem da tabela do SUS para próteses, que não é reajustada há oito anos, contribui para as atuais dificuldades financeiras da AACD. No ano passado, a entidade teve um déficit de 4% em suas contas, o que acarretou o fechamento de duas unidades de atendimento.

Trabalhando com um orçamento cada vez mais apertado, a AACD vem aumentando o estoque de produtos que podem ser adquiridos diretamente em sua sede. Além da produção própria – como próteses, calçados adaptados e cadeiras de rodas personalizadas -, a companhia também oferece em sua loja produtos análogos de outros fabricantes. “Precisamos vender mais para quem tem condições de pagar para conseguirmos atender ao público mais carente”, diz Galvan.

O dinheiro novo também ajuda a compensar a expressiva queda nas doações à entidade, que foi de 30% em 2015, na comparação com o ano anterior.

Estilo

Embora órteses e próteses não sejam vistas como itens providos de glamour, existe espaço para que cada usuário imprima seu próprio estilo na peça que provavelmente o acompanhará por alguns anos. Algumas órteses, por exemplo, podem ser personalizadas com adesivos selecionados conforme o gosto do cliente.

No caso das próteses, a opção dos usuários mais jovens tem sido mais radical, segundo o chefe da oficina de produção da AACD. “Antes, todo mundo queria uma prótese com um revestimento que imitasse uma perna”, explica Rino. Agora, muita gente tem preferido abandonar o revestimento de espuma para deixar a base metálica aparente. É uma opção é por um “look” completamente diferente: sai o revestimento falso e entra em campo o visual “ciborgue”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.