Fábricas de celulose geram briga entre Argentina e Uruguai

Buenos Aires (AE) – As relações entre os governos da Argentina e do Uruguai estão novamente ficando tensas. O pivô da irritação crescente entre o argentino Néstor Kirchner e o uruguaio Tabaré Vázquez é a construção de duas fábricas de celulose (a espanhola ENCE e a finlandesa Botnia) sobre o Rio Uruguai, na fronteira dos dois países.

Kirchner considera que as fábricas poluirão as margens argentinas – prejudicando a indústria da pesca fluvial e da agricultura – e pede a suspensão da construção, enquanto que Vázquez argumenta que as empresas investirão US$ 1,8 bilhão e criarão milhares de empregos. Estimulados pelo governo Kirchner, milhares de argentinos da província de Entre Ríos estão realizando piquetes nas estradas que conectam este país com o Uruguai, para impedir o fluxo de turistas que partem em direção às praias uruguaias.

Em Montevidéu, estes protestos estão causando grande preocupação, já que os turistas argentinos são uma das principais fontes de renda do país, especialmente na temporada de verão.

O chanceler uruguaio, Reynaldo Gargano reclamou dos protestos afirmando que os bloqueios das estradas violam o espírito de livre comércio e trânsito de pessoas dentro do Mercosul. ?Com esses piquetes (os argentinos) estão evitando a passagem de caminhões e turistas, o que impede o cumprimento do primeiro artigo das regras do Mercosul, que diz que se deve garantir a livre circulação dos setores produtivos.?

Segundo Gargano, os piquetes ?esquentam o ambiente de forma errada?. O chanceler pediu ao governo argentino que tome medidas urgentes: ?Isso está nas mãos das autoridades argentinas, já que o Uruguai não pode imiscuir-se no território argentino?.

O governo uruguaio considera que ?por baixo dos panos? o governo argentino estimula os protestos. Em Montevidéu, o governo Vázquez pretende que a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Mercosul interfiram para impedir os piquetes.

A crise das empresas de celulose arrasta-se desde agosto passado, quando o governo Kirchner pediu ao Banco Mundial que não fornecesse créditos para a construção das duas fábricas. Na ocasião, o cenário parecia favorável a Kirchner. No entanto, há poucos dias, o Banco Mundial emitiu um relatório no qual indicou que as duas empresas cumprem os requisitos técnicos ambientais.

O governador de Entre Ríos, Jorge Busti, protestou. Ele considera que o relatório do organismo financeiro é errôneo, já que não leva em conta a opinião de especialistas argentinos da região de Entre Ríos. Busti ameaça recorrer ao Tribunal Internacional de Haia para tentar impedir a construção das fábricas.

Busti aumentou a tensão na segunda-feira à noite ao definir o chanceler Gargano como um ?descarado mentiroso?.

A Assembléia Ambientalista de Gualeguaychú, cidade de Entre Ríos, ameaça bloquear nesta sexta-feira a ponte que liga esta cidade com a uruguaia Fray Bentos, além da ponte que conecta a argentina Colón com a uruguaia Paysandú.

Ontem, o chanceler argentino, Jorge Taiana, se reuniu com o governador Busti para analisar a crise entre os dois países.

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