Que o Brasil está caminhando para uma padronização de tamanhos de vestuário não é novidade. Vários fabricantes de meias, por exemplo, já seguem novas regras, e as peças para bebês e infanto-juvenis são as próximas da lista, seguidas de outros segmentos. Porém, mesmo que nada ainda tenha sido definido para a maioria, empresas já começaram a se mexer para não serem apanhadas de surpresa pelos novos padrões.

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Em Imbituva, na região dos Campos Gerais, as malharias, famosas pelas peças em tricô e outras roupas de inverno, devem começar, no próximo fim de semana a entender como funciona a padronização. Mesmo com as novas medidas padrão ainda por serem definidas. A iniciativa foi do Arranjo Produtivo Local (APL) das malharias, e conta com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná (Sebrae/PR).

Segundo o coordenador da APL das malharias de Imbituva e proprietário de uma empresa no setor, Ariel Neiverth, a ideia é antecipar as novas normas e, ao mesmo tempo, garantir competitividade e ampliar mercados. Por enquanto, praticamente toda a produção da região é vendida apenas nos estados do Sul do País, e parte de São Paulo e Mato Grosso do Sul. A intenção, daqui para a frente, é chegar também ao exterior.

“Já estamos preocupados em sair na frente”, diz Neiverth. “A partir da coleção de inverno de 2010, na malharia que um comprador for, vai encontrar as mesmas medidas”, informa. Até lá, o trabalho será intenso nas 42 empresas envolvidas no projeto. Já em setembro, elas começam o planejamento da próxima coleção, e a intenção é de que, em outubro, as fábricas estejam produzindo, a todo vapor, roupas com os tamanhos padronizados.

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Para o consultor do Sebrae/PR responsável pelo projeto de padronização em Imbituva, Gilberto Keserle, a ampliação de mercados será mesmo um dos maiores benefícios. “Se as empresas colocarem produtos com modelagem padrão, vão atingir mais mercados, sejam eles nacionais ou internacionais”, diz. O investimento, conta ele, não é alto. No caso de Imbituva, será em torno de R$ 3 mil por empresa. “Na primeira coleção, o valor já retorna”, calcula.

Treinamento

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De acordo com Keserle, os trabalhos para a padronização envolvem, além de palestras, consultoria nas empresas e muito treinamento, para que todas as modelagens possam ser refeitas. “Esperamos que, no máximo até o final de setembro, as malharias já estejam preparadas”, prevê. Ele acredita que, em média, são necessários cerca de 60 dias, a partir do início do projeto, para que uma empresa comece a produzir peças em tamanho padronizado.

O consultor do Sebrae/PR garante que não há problemas em padronizar os tamanhos pouco antes das novas normas chegarem. “Já existem orientações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), há uma legislação e estamos fazendo o projeto com base nisso. Se houver alterações, para as malharias se adaptarem será mais fácil do que se começarem do zero”, afirma.

Espera

Se em Imbituva a ideia foi antecipar as normas, na região de Maringá os empresários, cientes de que novas regras estão por vir, têm preferido esperar por definições. O presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário (Sindivest) da cidade, Carlos Pechek, diz que as empresas estão atentas, mas que têm preferido aguardar uma posição final por parte da ABNT e do Inmetro. “Ainda não há nada concreto sobre isso”, diz.

O dirigente acredita que a espera será melhor, já que as mudanças não dependem apenas das malharias. Os fornecedores terão que adaptar os materiais para evitar que, por exemplo, fatores como o encolhimento dos tecidos tire uma peça da margem padrão. “Por enquanto, esse assunto é um pouco assustador para as empresas. Mas no fim, vai ser melhor para todo mundo, principalmente para o consumidor”, afirma Pechek.

Regras atuais não são de aplicação obrigatória

Atualmente, a principal norma em vigor para a maioria das peças de vestuário é a NBR 13.377 (Medidas do Corpo Humano para Vestuário, Padrões Referenciais), estabelecida em 1995 pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A regra, no entanto, até por não ser obrigatória, é pouco seguida, apesar de esforços em contrário de entidades como a Associação Brasileira do Vestuário (Abravest). Uma nova ação de órgãos públicos e fabricantes começou em 2007, com a aprovação de um padrão para meias. Ainda assim, a norma 15.525 não é seguida por todos os fabricantes.

Mas as novas regras, que devem começar a entrar em vigor gradativamente de acordo com o segmento, estão vindo depois de mais discussões, por meio de consultas públicas, principalmente, e até o uso de tecnologias avançadas, como um body-scanner, adquirido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Cetiqt) do Rio de Janeiro. O aparelho está fazendo uma espécie de raio-x das medidas do brasileiro e alimentando um banco de dados que está sendo usado pela ABNT.

A bola da vez, agora, é o vestuário infanto-juvenil. Em julho, a ABNT abriu uma consulta pública para receber sugestões sobre a padronização das medidas do vestuário infanto-juvenil e de bebês. Qualquer cidadão, seja estilista, fabricante, lojista ou consumidor, pode dar opiniões, através do site do órgão (http://www.abntonline.com.br/ consultanacional/ projetodet.aspx?ProjetoID=3195), até o dia 29 de setembro. É necessário apenas um cadastro (gratuito) para acessar o sistema.

Segundo o consultor do Senai de Maringá, Adilson Jenck, o tema da padronização é bem mais complexo do que se pensava inicialmente. “E não é um problema só nosso. Está sendo discutido também na Europa e Estados Unidos, por exemplo”, informa. “No fim das contas, a empresa continuará tendo que saber qual é o seu público, e quais são as medidas desse público”, lembra, mencionando exemplos como
a moda “oversize’.

Para Jenck, a padronização ainda envolve outros assuntos, como o comércio internacional. Com regras mais rígidas, ele acredita que a indústria brasileira consiga promover uma espécie de filtragem dos importados, fabricados sob moldes baseados em corpos diferentes do brasileiro e, pior, que chegam ao Brasil a preços muito abaixo do que as empresas nacionais conseguem produzir. “Sem padronização, uma roupa não entraria no Brasil”, diz.