A entrada dos chineses em projetos de infraestrutura logística ainda é uma promessa, mas começa a tirar o sono da indústria nacional de ferrovias. O setor, que faturou R$ 5,6 bilhões no ano passado e gera 20 mil empregos diretos, teme que a investida dos asiáticos comprometa a produção nacional.
Os chineses estão de olho na Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), uma malha de 883 quilômetros prevista para ligar o maior polo de produção de grãos no País, na região de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, até sua ligação com a Ferrovia Norte-Sul, em Campinorte (GO).
O temor da indústria não é a construção da ferrovia, uma iniciativa que é muito aguardada pelo setor. A apreensão é com os acordos atrelados ao projeto, como importação de trens de passageiros, vagões, locomotivas e tudo o mais que envolva a estrada de ferro.
“Não somos contrários a investimentos estrangeiros, muito pelo contrário. Mas é importante assegurar que todos atuem de acordo com as mesmas regras e que enfrentem a mesma realidade”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate. “Não queremos passar pelo que está acontecendo hoje com a Argentina, que viu a sua indústria ferroviária praticamente desaparecer.”
Nos últimos 18 meses, o governo argentino firmou vários contratos com os chineses, com o propósito de revitalizar sua indústria ferroviária. Os apertos de mão resultaram na compra de 1.310 carros de passageiros chineses, 3 mil vagões, 100 locomotivas e um sem número de componentes de reposição, incluindo trilhos e dormentes. “Prometeram produção local aos argentinos. Depois de venderem tudo, disseram a eles que o país não tinha escala que justificasse uma fábrica”, disse Abate, que teve encontro dias atrás com representantes do governo argentino.
Apesar da crise, da lentidão dos projetos em andamento e da dificuldade do governo em leiloar a construção de novas ferrovias, a indústria nacional tem registrado resultados positivos. O resultado de R$ 5,6 bilhões registrado no ano passado representa 24% de crescimento sobre o ano anterior, quando o setor faturou R$ 4,3 bilhões. Do total movimentado, cerca de 60% está ligado a transporte de passageiros e 40%, cargas. No ano passado, foram produzidos no Brasil 4.703 vagões, outros 374 carros de passageiros e 80 locomotivas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.