Brasília – As sucessivas crises que se abateram sobre a economia brasileira e a dos países vizinhos nos últimos 11 anos não foram suficientes para impedir o fortalecimento comercial do país no Mercosul.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que na última década foram criadas milhares de empresas no Brasil apenas para exportar para os países do bloco. De 1990 até 2001, o número de empresas brasileiras que exportam para Argentina, Uruguai e Paraguai saltou de 3.834 para 11.436.

“O crescimento do número de empresas acompanhou o boom do comércio entre os países do bloco. Acho que, na medida que os países do bloco tiverem uma simetria macroeconômica, haverá um incremento ainda maior nas relações comerciais”, disse o presidente da Confederação Nacional das Indústria, deputado Armando Monteiro (PTB-PE).

O número de empresas deu um grande salto, mas a consolidação do Mercosul não se tornou uma alavanca na geração de empregos na mesma proporção. Enquanto o número das empresas aumentou em 335% nos últimos 11 anos, a oferta de empregos só cresceu 82,5%.

Empregados

O perfil dos empregados também foi modificado, de acordo com o Ipea, devido à abertura do mercado, que trouxe para o país máquinas e equipamentos mais sofisticados, exigindo mão-de-obra mais qualificada. Em uma década, os empregados que tinham primeiro grau completo aumentaram de 13,91% para 18,25%. A evolução, no entanto, apresentou um ritmo bem mais lento no caso dos empregados com curso superior. Estas vagas aumentaram de cerca de 6% em 1991, para 7,6% em 2001.

O documento observa ainda que nos momentos de crise, quando as economias do bloco encolheram, como no caso da desvalorização cambial brasileira, o número de empresas não se alterou. Em compensação, em 1995, em pleno apogeu do plano Real, as empresas chegaram a ter quase 2,5 milhões e empregados.

Perfil dos produtos sofreu mudanças

A pesquisa do Ipea mostra também que os produtos brasileiros exportados para Argentina, Paraguai e Uruguai também mudaram muito ao longo dos anos. No início da década passada, o país limitava-se a vender para a Argentina minério de ferro aglomerado, laminados planos de ferro e aço, automóveis e caminhões. Para o Paraguai vendia tecidos, cerveja, malte, automóveis, caminhões e, para o Uruguai, polietileno, mate, aparelhos para telefonia, automóveis e tratores.

Hoje, além de ter aumentado a venda do setor de telefonia, o Brasil vem exportando produtos acabados como calçados, roupas, medicamentos, aparelhos domésticos, eletroeletrônicos e chocolates.

“O que sentimos no nosso setor é que as exportações brasileiras, que tiveram queda expressiva entre 2000 e 2002, com o acirramento da crise da Argentina, estão voltando ao patamar de 2001. A partir de agora a tendência é que as vendas se expandam ainda mais”, diz o empresário Paulo Skaf, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confecção.

Pelos números do estudo, a Região Norte só exportava US$ 26,3 milhões em 1990 e chegou a 2001 com vendas de US$ 276,6 milhões. A Região Nordeste exportava US$ 112,4 milhões e passou a vender para o exterior US$ 369,3 milhões. Já a Região Centro-Oeste passou de US$ 14,1 milhões para US$ 65,2 milhões.

O impacto mais expressivo das exportações aconteceu nas regiões mais próximas aos países do bloco: a Sudeste exportava em 1991 US$ 1,07 bilhão e triplicou as vendas para US$ 3,18 bilhão em 2001. A Região Sul exportava US$ 311 milhões e passou a exportar US$ 2,43 bilhões. Com isso, as exportações brasileiras para o bloco, que somavam US$ 1,54 bilhão no início da década passada, passaram para US$ 5,47 bilhões.

O mesmo comportamento foi constatado pelo Ipea em relação ao aumento do número de empresas brasileiras exportadoras. Na Região Sul do País foi registrada a maior expansão no número de companhias exportadoras: 1.047 empresas, em 1991, para 4.446 empresas em 2001. Na região Sudeste, elas eram cerca de 2.400 e passaram para mais de seis mil empresas.

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