Se já não bastassem a queda da demanda internacional e a valorização do real ante o dólar nas últimas semanas, o exportador brasileiro tem sido obrigado a lidar com um inimigo inesperado: o calote. Abatidas pela crise global, muitas empresas não estão honrando seus compromissos mundo afora, o que tem atingido em cheio companhias brasileiras dos mais variados setores. Como se trata de um problema recente, ainda não há estatísticas disponíveis.
Mas alguns dados mostram que a situação é preocupante e, segundo o Estado apurou, já chamou a atenção do governo. A Coface, maior seguradora de crédito à exportação do Brasil, acusou no primeiro trimestre uma explosão dos sinistros nessas operações. Segundo o presidente da empresa, Fernando Blanco, a relação entre prêmios e sinistros, que normalmente oscila de 35% a 40%, saltou para 417% no balanço dos três primeiros meses do ano.
Isso significa que, de cada US$ 100 de prêmios recebidos pela seguradora, entre US$ 35 e US$ 40 resultam em perdas – repita-se, em condições normais. No primeiro trimestre, foram US$ 417 (no exemplo). “A diferença (US$ 317) saiu do meu caixa”, diz Blanco.
Segundo ele, a inadimplência atinge corporações de países emergentes e desenvolvidos, como Itália, Inglaterra, Venezuela, Chile, Dinamarca, Holanda, Suécia e Indonésia. “Até em Dubai (nos Emirados Árabes Unidos) tivemos casos.”
A Coface só trabalha com exportação de manufaturados, que, nas contas do economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, respondem por 46% do total da pauta brasileira (US$ 198 bilhões no ano passado).
O diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca, confirma os problemas. “Conhecemos de 50 a 100 exportadores que tiveram algum tipo de atraso”, afirma. “Ainda não é algo que chegue ao bilhão, mas certamente já está na casa dos milhões de dólares.”