Exportação do setor de alimentos cresce

Com a expectativa de um consumo doméstico menos aquecido no segundo semestre deste ano, as principais companhias brasileiras do setor de carnes aumentam sua atenção para as vendas no mercado internacional.

De abril a junho, as empresas com operações no segmento de bovinos já apresentaram bom desempenho das exportações, fator que impulsionou o avanço de suas receitas. Para JBS, Marfrig e Minerva, o crescimento das vendas externas foi um dos destaques do período, possibilitado pela demanda internacional crescente em países emergentes e pela maior rentabilidade da carne.

Maior exportadora do setor no País, a JBS apresentou uma alta de 45% nas suas exportações ao final do último trimestre, para US$ 4,305 bilhões ante US$ 2,975 bilhões no segundo trimestre de 2013. Para o analista Luca Cipiccia, do Goldman Sachs, com crescimento do volume exportado pela divisão norte-americana e do preço médio mais elevado da unidade no Mercosul, o desempenho das vendas externas das operações de bovinos do grupo foi um dos responsáveis pelo resultado consolidado da JBS. No período, a receita líquida da companhia aumentou 32,1%, para R$ 28,968 bilhões.

Já a receita bruta da Minerva no mercado externo teve uma expansão de 28,1% entre abril e junho, para R$ 1,191 bilhão, enquanto a receita líquida total da empresa avançou 25,2%, para R$ 1,656 bilhão. “As vendas externas chegaram a 70% do total e continuam a ser o grande ‘driver’ de resultado e faturamento”, declarou o diretor Financeiro da companhia, Edison Ticle, durante divulgação dos resultados.

Em entrevista com a imprensa para comentar os números da empresa no período, o diretor presidente da Marfrig, Sérgio Rial, também destacou a crescente participação das exportações na divisão de bovinos, a Marfrig Beef. Ao final de junho, 40% da produção total no Brasil eram destinados para exportação. Ao considerar os demais países de atuação da Marfrig na América Do Sul, as vendas externas correspondiam a quase 46% de todo o volume produzido. Para Rial, depois de um segundo trimestre onde as vendas no mercado interno contaram com o suporte da Copa do Mundo, a desaceleração econômica do País deve tornar o cenário do consumo doméstico mais desafiador para todo o setor. “Diante disso, a expectativa é de que o bom momento das exportações brasileiras neutralize parte do movimento da queda dos preços em função do menor consumo interno”, disse o executivo.

Novos mercados

De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), de janeiro a julho de 2014, as exportações brasileiras de carne bovina in natura somaram US$ 3,299 bilhões, avanço de 3,4% na comparação com igual período do ano passado. Em volume, a alta é de 13,4%, para 715 mil toneladas. Além do crescimento já apresentado no ano, a recente abertura de importantes mercados consumidores, como China e Rússia, também elevam as perspectivas para as vendas externas do setor.

A demanda chinesa por carne bovina é uma das que mais cresce em todo mundo e, no início de julho, o país suspendeu o embargo aplicado ainda em 2012 ao produto brasileiro. Juntos, China e Hong Kong representam um dos principais mercados para o setor. Para a JBS, por exemplo, a Grande China concentrou 18,5% de suas exportações no segundo trimestre. Já a Minerva deve ser uma das principais beneficiadas com a maior abertura do mercado russo, após o país aplicar barreiras aos Estados Unidos e à União Europeia. Em junho, a Rússia concentrava 23% das exportações da operação brasileira da companhia.

Carne suína e frango

Os mercados chinês e russo também têm potencial para aumentar o volume e, principalmente, rentabilidade das exportações de outras proteínas, como as carnes suína e de frango. Com a menor oferta de animais e valorização dos preços da carne suína in natura, no acumulado do ano, as exportações brasileiras da proteína caíram 4,5% em volume, mas apresentam um aumento de 12% em receita, segundo o MDIC. Já as vendas de carne de frango in natura registram queda de 1,3% em faturamento, com um volume exportado estável em relação aos sete primeiros meses de 2013.

Em teleconferência com analistas e investidores, o presidente global da JBS, Wesley Batista, destacou que a maior abertura da Rússia também deve beneficiar o segmento de aves, suínos e processados da companhia. Segundo ele, com a decisão de Moscou, as vendas das operações da JBS no Brasil podem aumentar cerca de US$ 1 milhão.

“Com a abertura do mercado russo, mais do que volumes adicionais, vemos espaço para um melhor poder de barganha em relação aos preços”, avaliaram, em relatório, analistas do banco BTG Pactual. Para Rial, da Marfrig, ainda não é possível quantificar qual será o impacto da ampliação dos mercados compradores de carnes brasileiras, mas a abertura de países do tamanho de China e Rússia certamente contribui para a precificação internacional.

BRF

Com operações mais focadas nos segmentos de aves, suínos e industrializados, a BRF foi a única dentre as companhias de capital aberto do setor a não apresentar um avanço em suas exportações. A queda de 2% na receita líquida das vendas externas, no entanto, está em linha com o processo de reestruturação da companhia. A estratégia da BRF é reduzir o volume das exportações com margens mais baixas, como as carnes in natura, e ganhar em rentabilidade com produtos industrializados de maior valor agregado. A companhia deve ser uma das principais beneficiadas com a abertura do mercado russo nos segmentos de aves e suínos. Apenas na última semana, quatro unidades da BRF no Brasil (em Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) foram autorizadas a exportar carne suína para a Rússia.

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