A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana que vem deve revelar que os membros do colegiado estão divididos em relação ao que esperar do comportamento dos preços administrados em 2016. Vilão declarado da inflação deste ano, esse conjunto de itens deve apresentar alta de 17,43%, segundo a mais recente previsão do mercado financeiro. Para 2016, os cálculos levam a uma taxa de 7%, ou seja, já acima do teto de 6,5% da meta de inflação.

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Essa perspectiva de que as tarifas públicas não darão trégua para o IPCA foi um dos principais pontos de diferença entre os integrantes do Copom essa semana, conforme apurou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. O colegiado decidiu manter a taxa básica Selic em 14,25% ao ano pela terceira vez consecutiva, nível que se mantém desde julho. A decisão, no entanto, não foi unânime. Para os diretores dissidentes Sidnei Corrêa e Tony Volpon, os juros básicos já poderiam ter caminhado para 14,75% ao ano agora. Provavelmente, eles estão mais pessimistas com essa condição dos administrados do que os demais colegas.

Vale lembrar que em sua primeira entrevista como diretor de Política Econômica, Altamir Lopes, no início deste mês, revelou a percepção de que o ajuste dos preços regulados pelo governo tem sido mais prolongado e intenso do que previa a cúpula da instituição. “Há uma resiliência dos preços livres e uma expansão exponencial dos administrados”, resumiu o diretor na ocasião.

Além das tarifas, outra discussão antes da votação de quarta-feira, 25, foi o ‘timing’ que o colegiado pode esperar sobre um desenrolar da área fiscal. Seria necessário agir já ou é melhor aguardar algum sinal mais definitivo sobre as contas públicas? O BC tem reiterado que necessita dessas informações para traçar uma estratégia de combate à inflação, que tem se mostrado resistente. Na mesma entrevista de quase um mês atrás, Altamir chegou a dizer que mais importante do que a fixação de um número para a meta fiscal, a indefinição sobre o tema traz problemas. “A indefinição fiscal atua sobre os preços dos ativos e traz perturbações.”

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Esse quadro de fiscal e administrados tem levado a uma disparada das expectativas do mercado financeiro para a inflação deste e dos próximos anos. Para alguns membros do colegiado esse avanço das projeções tem sido “desmedido e um tanto irracional”. Daí a necessidade de uma ação já. Conforme a última Focus, o IPCA deve apresentar alta de 10,33% este ano e de 6,64% no próximo. Para 2017, a mediana das projeções subiu de 5,00% para 5,10% na semana passada.

Ainda que tenha ocorrido essa divisão de percepção entre os membros do Copom sobre alguns pontos, há uma forte determinação de todo o colegiado em entregar a inflação na meta. No comunicado da reunião do Comitê de outubro, o prazo que o BC deu para a tarefa foi o “horizonte relevante para a política monetária”, que foi traduzido dias depois pelo diretor de Política Econômica como 2017. Não há divisão nem faltará empenho entre os membros do colegiado para que a tarefa seja cumprida.

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Em janeiro do ano que vem, como a inflação ficará bem acima do teto da meta, o presidente do BC, Alexandre Tombini, terá de escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda, justificando os motivos que levaram ao descontrole e apresentando a estratégia para que esse fenômeno não volte a ocorrer. É preciso também, no documento, sinalizar prazos para que os efeitos dessa estratégia comecem a surtir efeitos.

O comunicado que se seguiu à decisão de quarta-feira foi bem mais sucinto do que o da edição de outubro. Trouxe apenas o novo patamar dos juros e a divisão de placar do colegiado. A dissensão revelou que, mais do que discurso, membros do Copom estão preparados para agir. No comunicado passado, bem mais longo, foi apresentada a análise de que a manutenção desse patamar por “período suficientemente prolongado” era necessária para levar a inflação para o centro da meta em 2017. O Copom também suprimiu da nota desta vez a frase de que continuará vigilante para que o objetivo de levar a inflação para 4,5% daqui a dois anos seja cumprido. Apenas o fato de haver uma divisão, com dois integrantes do comitê querendo elevar a taxa neste momento, torna obsoleto todo o discurso que havia sido apresentado.

Esta foi a quarta vez desde que houve abertura dos votos dos membros do Copom em que há divisão do colegiado. As outras vezes foram em outubro de 2012, abril de 2013 e outubro de 2014, logo após a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Em todas as ocasiões, Sidnei esteve na ponta de cima. Não há histórico de Volpon, que integrou o comitê em abril deste ano.