O índice de expectativas apurado no Brasil em julho de 2008 é o menor desde julho de 2006, segundo a Sondagem Econômica da América Latina, divulgada nesta quarta-feira (20) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). A coordenadora de projetos do centro de estudos de setor externo da instituição, Lia Valls, atribui a piora na avaliação à alta na inflação e nos juros. Segundo ela, “o cenário mudou claramente entre abril (quando foi divulgada a última sondagem) e julho; houve um aumento da preocupação com a inflação e o governo respondeu com alta de juros, o que levou a mudanças nas projeções de crescimento, afetando as expectativas”.
Em abril, o índice de expectativas no Brasil ainda estava no campo favorável, em 5,1 (é considerado satisfatório acima de 5 e ruim abaixo desse parâmetro) e, em julho, recuou para 3,8, o menor da série apresentada por Lia, iniciada em julho de 2006. “A pesquisa mostrou uma deterioração muito grande das expectativas no caso brasileiro, o que pesa muito aqui é a questão da inflação”, disse.
Apesar da piora nas expectativas, a avaliação do cenário atual permanece positiva. O índice de situação atual no Brasil ficou em 7,2, inferior ao apurado em abril (7,9), mas ainda em patamar bem favorável.
Emergentes
Apesar da piora das expectativas no Brasil e na América Latina, a avaliação nos países emergentes está bem melhor do que a apurada nos países desenvolvidos, segundo mostra a sondagem, feita em parceria pelo Institute for Economic Research da Universidade de Munique, ou Instituto IFO, e a FGV. “O clima na América Latina é relativamente melhor do que no mundo como um todo, em que pesa muito a economia americana”, disse a coordenadora de projetos do centro de estudos de setor externo da instituição, Lia Valls. Segundo Lia, como os países emergentes têm hoje uma menor dependência de capitais externos, com maior volume de reservas internacionais, “isso minimiza o risco de uma crise”.
O Índice de Clima Econômico (ICE) do mundo caiu de 4,6 em abril para 4,1 em julho, segundo a Sondagem. Ou seja, o cenário no mundo permanece como recessivo (índice abaixo de 5 mostra recessão) e chegou, em julho deste ano, ao menor patamar desde outubro de 2001, logo após os atentados de 11 de setembro. “Agora a interrogação é quanto tempo vai durar essa situação, todos os analistas se perguntam isso”, disse Lia.
Na América Latina também houve uma deterioração no ICE, porém, mais branda, já que o índice passou de 4,9 em abril para 4,6 em julho. Segundo Lia, o cenário na AL é melhor porque, ainda que as expectativas estejam em queda, a avaliação da situação atual permanece positiva, enquanto no mundo – sobretudo na Europa e Estados Unidos – há deterioração na situação atual e nas expectativas.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o ICE ficou praticamente estável entre abril (3,3) e julho (3,5), mas permanece em patamar muito baixo. Na União Européia, houve uma sensível queda no índice, de 4,5 em abril para 3,8 em julho. No Brasil, o ICE era de 6,5 em abril e recuou para 5,5 em julho, ou seja, caiu muito, mas permanece no âmbito favorável, sobretudo por causa da boa avaliação da situação atual, já que as expectativas estão bem piores no País na sondagem de julho.