O que era para ser o maior avanço da história recente da humanidade – elevação sem precedentes da expectativa de vida – se tornou uma dor de cabeça para os governos europeus. Da Espanha à França, passando da Alemanha à Grécia, governos buscam fórmulas mágicas para recriar um sistema de aposentadorias e de contribuição social que seja sustentável, não apenas para enfrentar a crise econômica, mas também para lidar com um número cada vez maior de idosos na economia.
A reforma das pensões na França ganhou as ruas. Mesmo após sua aprovação pelo Senado, na sexta-feira, o país continuou a enfrentar manifestações, com paralisações e bloqueios de refinarias e postos de gasolina. O projeto de lei, que entre outras mudanças vai aumentar a idade mínima de aposentadoria de 60 para 62, deve ter sua aprovação definitiva na quarta-feira.
No Reino Unido, o governo anunciou esta semana que a idade para aposentadoria subirá de 65 para 66 anos em 2020, seis anos antes que o previsto. França e Reino Unido não estão sozinhos. Hoje, governos de esquerda, centro ou direita estão sendo obrigados a fazer reformas em seus sistemas.
Com a crise, governos tiveram de gastar bilhões de euros para evitar uma depressão. Mas o preço pago foi um déficit nas contas públicas que está obrigando os governos a repensarem seus gastos e acelerarem reformas que estavam engavetadas por causa da dificuldade política em reduzir direitos sociais. Uma delas é o pagamento de aposentadorias.
Bomba relógio
Economistas dizem que a maior bomba relógio não é a dos déficits dos governos, mas o fato de que a população europeia está envelhecendo. Pela primeira vez na história do continente, um terço da população estará aposentada. Dados da União Europeia (UE) dão a dimensão do desafio. Nos 16 países que usam o euro, 18% da população já tem mais de 65 anos e está aposentada.
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), para cada aposentado na Europa existem quatro trabalhadores pagando impostos. Em 2050, a taxa chegará a um aposentado para cada dois trabalhadores.
Isso sem contar com o fato de que, em 20 anos, 10% da população europeia terá mais de 80 anos, o dobro da atual taxa, o que significa que os gastos com saúde pública se multiplicarão. O custo da saúde dos idosos para o governo no Reino Unido já é superior aos gastos com saúde e educação para as crianças.
De acordo com a seguradora Allianz, 11,4% do PIB europeu já vai para o pagamento de aposentadorias. Até 2050, essa taxa deve ultrapassar 13%.
“O impacto do envelhecimento da população é bem maior que o da crise para as contas do continente”, avalia a OCDE. Na Grécia, a estimativa é que, se nada for feito, o sistema de pensão declare falência em 2013.