Os planos de expansão da Renault do Brasil em 2003 animaram o setor automotivo paranaense, principalmente pela possibilidade de geração de empregos diretos e indiretos. Anteontem, o presidente da Renault do Brasil, Pierre Poupel, anunciou, em São Paulo, a duplicação da produção do Scénic (visando a exportação para Europa e Ásia), a fabricação do Clio geração III e de um novo modelo para exportação – que conforme comentários do mercado, seria o Megane. “Se a empresa mantiver a previsão de produzir 75 mil carros no ano que vem, terá que recontratar, no mínimo, as 110 pessoas mandadas embora”, avalia Núncio Manala, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba.
Embora o presidente da Renault tenha falado em 75 mil carros no próximo ano, fontes do setor informaram que a previsão seria entre 83 mil e 85 mil automóveis, caso o modelo exclusivo para exportação comece já em 2003. Na coletiva concedida no Salão do Automóvel, Poupel informou que a empresa reativará o segundo turno de produção da fábrica de São José dos Pinhais no início de 2003. O segundo turno foi interrompido no dia 16 de setembro sob a alegação do desaquecimento do mercado. Só a produção diária do Scénic passará de 100 para 200 unidades. A fábrica tem capacidade para 200 mil carros/ano, mas ainda não atingiu nem a metade. A produção diária atual é de 290 veículos.
Pelos cálculos do Sindicato dos Metalúrgicos, cerca de 7,5 mil novos empregos indiretos poderão ser gerados caso o índice de nacionalização dos novo Clio e do veículo para exportação seja de 50%. Caso a totalidade das peças seja feita no País, seriam abertos mais 15 mil postos de trabalho no setor automotivo. “A Renault ganhou dilação do prazo para pagamento do ICMS até 2016, mas o governo poderia colocar no protocolo a garantia de nacionalização de peças, para gerar mais empregos”, opina Manala.
Como a Renault programou férias coletivas entre 20 de dezembro a 5 de janeiro, é bem provável que as mudanças na plataforma de produção sejam feitas nesse período, possibilitando a fabricação do Clio, Scénic e talvez do Mégane. A expectativa do Sindicato é que as contratações de pessoal sejam feitas em fevereiro, quando as novas linhas devem começar a funcionar.
Lesões
Apesar das boas notícias para 2003, a melhora nas vendas domésticas de automóveis nos últimos meses está trazendo problemas aos trabalhadores da planta da Renault no Paraná. O Sindicato denuncia que os funcionários administrativos estão sendo pressionados com acúmulo de serviço, o mesmo ocorrendo com o pessoal da produção, que opera no limite da capacidade de produção, de 40 carros por hora. “Não temos certeza se a empresa analisou se as condições ergonômicas não trarão seqüelas aos trabalhadores, por causa dos esforços repetitivos”, salienta Manala. Ontem, por exemplo, os funcionários repuseram duas horas do banco de horas, trabalhando das 6h às 16h.
O Sindicato encaminha hoje uma carta à empresa pedindo a abertura de um canal de negociação para rever a situação dos trabalhadores doentes. Na última audiência realizada na Delegacia Regional do Trabalho, a montadora se comprometeu a marcar uma reunião para outubro, que até agora não ocorreu. Uma lista inicial do Sindicato relaciona 40 trabalhadores da Renault com suspeitas de lesões, entre afastados pelo INSS, demitidos e trabalhando com restrições. “Se a Renault não abrir negociação até terça-feira à tarde, poderá haver um acampamento na frente da fábrica na quarta de manhã”, avisa Manala.