Desde 2006, a empresária da moda Eliana Piva de Albuquerque Tranchesi, de 56 anos, vinha travando uma batalha contra um câncer de pulmão. Ela enfrentou uma cirurgia para a retirada de um tumor e se submeteu a sessões de radioterapia e quimioterapia. No último ano, mesmo com o tratamento, a doença se agravou. Eliana passou a trabalhar de casa.
Hoje, a empresária morreu por complicações do câncer, segundo informativo do Hospital Albert Einstein, onde esteve internada por várias vezes.
Eliana foi um fenômeno no mundo dos negócios da moda. Transformou uma butique fechada e sem vitrine de roupas nacionais, a Daslu – fundada pela mãe Lúcia Piva há 50 anos -, numa referência brasileira para o mercado de luxo. “Ela foi pioneira, inventou um atendimento superespecial, que não existia”, diz a empresária Constanza Pascolato, dona da tecelagem Santa Constância.
A loja começou praticamente na casa de sua mãe, na Vila Nova Conceição, em São Paulo, e foi se expandindo. Em 2005, sob a administração de Eliana, dominava duas esquinas da mesma rua – uma loja só para mulheres e outra para homens.
Depois da morte da mãe, na década de 1990, Eliana lançou uma linha de roupas com a marca Daslu. Também passou a vender grifes importadas, além de objetos de decoração para casa.
“As mulheres se esbaldavam ali. Ficavam muito à vontade. Como na unidade feminina não entrava homem, não havia necessidade de vestiário. Éramos atendidas como se estivéssemos em casa. Recebíamos um tratamento muito especial, que até hoje não existe igual”, diz Costanza.
As vendedoras pertenciam a famílias influentes. Sophia Alckmin, filha do governador Geraldo Alckmin, e Carolina Magalhães, neta de Antônio Carlos Magalhães, por exemplo, trabalharam na Daslu. Eram as dasluzetes.
“Eliana contratou jovens que conheciam as marcas de luxo e que eram amigas das clientes”, diz Patrícia Cavalcanti, de 44 anos, diretora de marketing e comercial da Daslu, que trabalhou durante duas décadas ao lado da empresária. “Isso foi um dos pulos do gato de Eliana.” O outro “pulo do gato”, segundo Patrícia, foi o de identificar a personalidade da mulher brasileira. “Ela fazia a seleção dos produtos e só trazia coisas que tinham muito a ver com o gosto da brasileira, até para mim, que faço questão de peças com mais informação de moda”, diz Costanza.
CIRCUITO TURÍSTICO – Em 2005, a Daslu tinha 70 mil clientes cadastrados e 1,5 mil compradores em potencial por dia. O sucesso da marca levou Eliana a abrir a Villa Daslu, um megaempreendimento de 17,5 mil m² no bairro Vila Olímpia, que virou a meca do luxo. O prédio, inaugurado em 2005, abrigava marcas que ainda não tinham loja no Brasil, casos da Chanel, Pucci e Gucci, entre outras. E os clientes eram recebidos com café expresso, champanhe e até uísque. A loja passou a fazer parte do circuito turístico da cidade oferecido pelas agências de viagens.
Mas a Daslu entrou na mira da Operação Narciso, comandada pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Sob acusação de sonegação fiscal, em 2005 chegou a ficar presa por 12 horas. Em 2009, foi condenada a 94 anos e seis meses de prisão, pelos crimes de formação de quadrilha, fraude em importações e falsificação de documentos. A partir daí, a empresa entrou numa espiral de problemas.
Em 2010, entrou em recuperação judicial e no ano seguinte foi comprada pela Laep Investments, do empresário Marcus Elias, por R$ 65 milhões. Eliana permaneceu no conselho da empresa. “Ela era essencial para que a loja não perdesse a sua identidade”, diz Patrícia. A empresária costumava dizer que a Daslu era a sua família. Hoje, a loja de São Paulo e a do Rio não abriram, em homenagem a empresária.
No Cemitério do Morumby, onde foi enterrada, compareceram empresários como João Paulo e Abilio Diniz, e personalidades da moda, como Giovanni Frasson, da Vogue, e o estilista Pedro Lourenço. Eliana foi casada com o médio Bernardino Tranchesi, com quem teve três filhos: Bernardino, Marcella, e Luciana.
